“1993, fudidamente voltando: Racionais! Usando e abusando da nossa liberdade de expressão”. Essa é a introdução da música Fim de Semana no Parque, do disco Raio X do Brasil, do grupo de rap Racionais MCs, que foi uma das minhas referências musicais no início da adolescência e durante muito tempo até a chegada de outros discos (deles e de outros nomes do rap).
Aquele disco mudou a percepção de vida de muitas pessoas, mudou a realidade de muitas comunidades/favelas, mudou a forma como a mídia olhava para as quebradas. No Cantinho do Céu, eram carros com sons ligados, ouvindo Racionais, Bezerra da Silva, Fundo de Quintal e Zeca Pagodinho, Originais do Samba e tantos outros nomes. Caixas de sons nas portas ou nas lajes, com o volume máximo.
Essa era, e ainda é, a realidade de muitas favelas no Brasil e o documentário “Racionais MCs – Das Ruas de São Paulo para o Mundo” retrata bem essa comunidade que as TVs não mostram. Me emocionei, me vi naqueles bailes do final da década de 1990, cantando “O Homem da Estrada” ou “Capítulo 4, Versículo 3” com o punho cerrado, apontando para o palco.
Era uma época tensa para todos nós que temos a “melanina acentuada” e ouvíamos música de “marginal”. A música marginalizada chegou aos berços não periféricos e como a própria música diz, “seu filho quer ser preto. Que ironia”. Ele quer as benesses da nossa negritude e só, as mazelas, deixem com o povo preto.
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O documentário mostra que a polícia cria factóides para que nossa luta seja deslegitimada, infiltram pessoas nos nossos meios para tumultuar espaços de paz, de lazer, de pessoas pretas. Mas eu falando isso não tenho a credibilidade estatal que as corporações têm e vão sempre desacreditar do que falo (quem já sofreu repressão por absolutamente nada sabe o que estou falando)
Por fim, literalmente, passou um filme da minha vida, assistindo aquele mundo de pessoas pretas, em campos de terra, curtindo um show do Racionais (era ostentação no final da década 90) lembrei do quanto já fomos “enxotados” de locais que não nos cabia pela tonalidade da nossa pele, pela nossa origem, pelo nosso jeito de vestir, pelo nosso jeito de falar.
Não tem como não lembrar da minha adolescência, até porque, eu também já fui aquele “pretinho vendo tudo do lado de fora”.
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