Um Carlos e seus 12 anos de escravidão

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Nos últimos dias, o país assistiu a mais um “caso isolado” de pessoas negras que foram julgadas e condenadas após a palavra de uma pessoa branca o sentenciar. No caso específico desse texto, falo da situação envolvendo Carlos Edmilson da Silva, que foi preso e condenado a 170 anos de prisão, pelo crime de estupro, na cidade de Barueri, Região Metropolitana de São Paulo. 

Carlos ficou privado de liberdade durante 12 anos, e qualquer semelhança com a arte não é mera coincidência, depois que uma das supostas vítimas o reconheceu por uma foto, sem nenhum tipo de prova coletada a partir do DNA. 

Cena do filme “12 Anos de Escravidão” – Foto: Reprodução

Ele ficou preso por três anos até que exames de DNA provaram que não havia material genético dele em nenhuma das quatro vítimas. Mas, por mais que pareça ridículo, ainda assim a foto dele continuava no banco de dados da Polícia Civil do Estado de São Paulo, com o apelido de “maníaco”. 

Julgado por seis juízes, o caso de Carlos é mais um daqueles que nos enchem de nojo, de asco, e repulsa pela Justiça brasileira. Será que havia pelo menos um magistrado negro nessa banca julgadora? Essa pergunta é muito retórica, até porque já sabemos a resposta. Ele passou por quatro detenções diferentes e a sociedade sabe como é o tratamento para homens que entram no cárcere como abusadores. “Sangra até morrer na rua 10”, já dizia os Racionais MCs. 

Ele não morreu, mas sangra, como vários outros homens negros que foram injustamente presos e julgados, simplesmente por serem pretos. A justiça no Brasil ainda usa a imagem de homens negros para mostrar um mínimo de serviço prestado à sociedade, mas, em sua grande maioria, sabemos que, se fossem homens brancos, o tratamento seria diferente, seria mais ameno. 

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Mesmo com tantos dados, números para provar o quanto o homem negro é vulnerável, a sociedade o rotula como agressivo, mas não se movimentam quando os números de mortes de pessoas negras atinge 76% em um ano, como em 2022, segundo o Atlas da Violência. Nós somos as maiores vítimas dessa sociedade racista que perpetua estereótipos escravocratas, aqueles mesmos que decretaram que Solomon Northup deveria viver seus 12 anos de escravidão. 

Carlos Edmilson também viveu seus 12 anos de escravidão, mas estamos falando do século XXI, que, supostamente, não deveria existir escravidão. Não existe para a população branca, para nós sempre sobrou o subemprego, os serviços braçais, os serviços do período da escravidão. 

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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