Por: Jorge Santana – historiador, pesquisador, documentarista e doutorando em Ciências Sociais
Segundo o filósofo africano Achille Mbembe a Necropolítica é o conceito que aborda a forma do Estado escolhe quem deve viver e quem deve morrer, em especial a morte é reservada aqueles grupos historicamente tidos como indesejáveis, no Brasil os negros . Por muito tempo debatemos sobre como o Estado, na sua vertente armada mata cidadãos negros e negras cotidianamente. Porém, esquecemos-nos de debater como aqueles buscam matar ou expulsar da política mulheres negras.
No Brasil as mulheres só conquistaram o direito ao voto, em 1934. Contudo quase 100 após essa vitória ainda são subrepresentadas na política. Apesar da primeira deputada estadual do Brasil eleita era negra, as mulheres negras são ainda menos representadas que as mulheres brancas. A primeira vereadora negra de São Paulo foi eleita apenas em 1970, na cidade do Rio de Janeiro em 1982, na capital baiana apenas no ano 2000 e na cidade de Curitiba somente em 2020.
Porém essa desigualdade é ainda maior quando olhamos como são tratadas as parlamentares e políticas negras tanto de direita como de esquerda. A deputada federal Talíria Petrone teve de sair da sua cidade e estado devido as ameaças de morte. Ana Lucia a primeira vereadora negra de Joinville sofreu ameaças de morte 5 dias após ser eleita. Dartora, primeira vereadora negra da capital do Paraná também foi ameaçada de morte. Em Niterói, Benny a primeira vereadora e negra e primeira trans também foi ameaçada.
Não poderia esquecer de lembrar que a prefeita negra de Bauru, que é negra, conservadora e de direita também foi ameaçada. Essa ação conjunta de ameaçar mulheres negras eleitas é, sobretudo misógino e racista. E busca manter a s mulheres negras no lugar o qual para eles é de direito delas, a “cozinha”.
Por um lado essas ameaças são graves e precisam ser investigadas, por outro lado apresentam um desespero de quem não aceita o protagonismo das mulheres negras. A branquitude está assustada, o plano de matar Marielle e conter a mulheres na política resultou em ainda mais mulheres negras na política. Parafraseando a grande Lélia Gonzalez: “ O Lixo não vai sair do parlamento”.