O Desafio de Transformar Realidades

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Por Claudionor Alves, diretor de Inclusão, Diversidade e Equidade Racial do Grupo Carrefour Brasil

Mais uma vez, as políticas de Inclusão & Diversidade estão sendo questionadas, especialmente após a eleição presidencial nos Estados Unidos e as recentes decisões de grandes empresas globais. E optamos por mencioná-las nessa ordem invertida, pois é preciso primeiro incluir para depois diversificar.

No entanto, na contramão dessas mudanças, há empresas que já compreenderam seu papel na sociedade e seguem comprometidas com essas políticas. Ainda assim, muitos ainda não entendem os desafios envolvidos, tanto internos quanto externos.

Claudionor Alves, diretor de Inclusão, Diversidade e Equidade Racial do Grupo Carrefour Brasil /Foto: Divulgação

Enquanto o termo “inclusão” entende que um mercado de trabalho inclusivo oferece oportunidades para todas as pessoas em atividades remuneradas, a “igualdade” parte do princípio de que todos devem ter os mesmos direitos, deveres e regras, sem considerar as diferenças individuais. Já a “equidade”, um outro termo que aparece muito em discussões sobre o assunto, reconhece que nem todos são iguais e partem do mesmo lugar. Por isso, essas políticas buscam atuar onde há desequilíbrios, levando em conta as necessidades e particularidades de cada indivíduo. Com esse entendimento, torna-se mais fácil compreender porque a sua promoção nas empresas é um grande desafio, porém necessário.

Além de ser um compromisso social, investir nessas políticas é uma questão de sobrevida para as empresas. A Deloitte trouxe um dado importante para as marcas que querem se manter relevantes no mercado entre as gerações mais novas. De acordo com o estudo “Global Marketing Trends 2022”, esse público está atento a marcas que representam diversidade, equidade e inclusão em seus anúncios. Contudo, eles também desejam reconhecer esses valores internamente nas companhias. Outro estudo da consultoria é o “Diversidade, Equidade e Inclusão nas Organizações 2023”, no qual mostrou que essas iniciativas geram valor para 94% das empresas. É evidente que, além de promover um ambiente justo e sem preconceitos, as empresas que seguem nessa frente também estão investindo na sustentabilidade de seus negócios.

O entendimento de que, muito mais do que incluir, é preciso dar condições para que as pessoas ocupem os espaços já é amplo, e há esforços do mercado para garantir que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades, tratamento justo e reconhecimento, independentemente de sua origem étnico-racial, do seu gênero, orientação sexual ou qualquer outra característica. Porém, a chave é entender que essa é uma luta que extrapola os muros das organizações e que o problema só será solucionado quando todos compreenderem que, muitas vezes, é necessário ampliar a atuação corporativa para outras áreas, como financeira, educacional e até mesmo de saúde.

Atualmente, muitas organizações têm dedicado esforços no desenvolvimento de suas plataformas de diversidade e inclusão e, além disso, vêm promovendo mudanças culturais dentro e fora de seus escritórios, com o objetivo de construir um futuro mais inclusivo e sustentável. Algumas delas também criaram áreas específicas para assegurar que o tema não seja apenas uma pauta dos discursos do time de RH ou um mero capítulo – ou até mesmo parágrafo – em seus relatórios de sustentabilidade,
garantindo, assim, mudanças efetivas em suas estruturas organizacionais.

Ainda assim, para além dos programas internos, as empresas precisam considerar o acesso à formação e capacitação das pessoas. Obviamente, é importante ter projetos que deem oportunidades de crescimento para os colaboradores, mas também é fundamental compreender que podemos oferecer oportunidades àqueles que ainda estão fora do mercado de trabalho. O poder público tem feito sua parte, mas o mercado pode e deve ser um agente ativo, ampliando parcerias e identificando oportunidades.

Outro ponto, que pode parecer distante das empresas em um primeiro momento, é a necessidade de dar acesso à saúde para as pessoas. E, por saúde, entende-se segurança alimentar, saneamento básico, saúde mental, atendimento médico e até mesmo saúde financeira. Isso pode parecer básico, mas, em um país como o Brasil, sabemos que nem todos têm acesso ao mínimo. Com essas condições garantidas, torna-se menos difícil para as pessoas investirem seu tempo em outras coisas, como formação acadêmica ou
especialização.

Reforço que, por mais distantes que essas instâncias possam parecer das empresas, ainda é possível que elas sejam agentes de transformação nestes cenários, por meio de projetos, ações, parcerias e filantropia. Porém, todo esse esforço de nada vale se a alta liderança não estiver engajada no assunto e não entender os benefícios que isso traz para o negócio, para além dos relatórios de sustentabilidade.

Assim, entendendo que não partimos todos do mesmo lugar e trabalhando de dentro para fora, podemos, um dia, alcançar um ambiente realmente inclusivo e diverso dentro das organizações. Temos o poder de promover meios para que todos tenham oportunidades e, mais importante ainda, acesso, será possível construir um ambiente corporativo mais justo e igualitário. Quem sabe o próximo ano não seja uma oportunidade bacana para começar a fazer isso?

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