“O NP foi um divisor de águas na minha vida profissional”, diz jornalista Igor Rocha, coordenador do Notícia Preta

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No dia 20 de novembro, o Notícia Preta comemora seu aniversário de 5 anos, e ao longo de sua trajetória, figuras importantes para o desenvolvimento do jornal foram chegando. Um deles é o Coordenador de Comunicação Igor Rocha, que a maior parte do tempo foi o editor da redação do NP, responsável pelo conteúdo do site.

Parte do Notícia Preta desde dezembro de 2018, pouco tempo após sua criação, o jornalista conta o quanto o jornal impactou sua vida. “O NP foi um divisor de águas na minha vida profissional. Eu já tinha uma caminhada considerável no jornalismo e no mercado de trabalho como um todo, mas trabalhar com os meus, com meus semelhantes, foi algo libertador“, conta o jornalista, que detalha um dos principais motivos para o jornal afetar sua vida positivamente.

Eu pude sentir cada história parecida com a minha, pude emocionar com as vitórias do nosso povo preto, chorar com a dor também, principalmente em 2021, quando uma das nossas colaboradoras perdeu a mãe, vítima da Covid-19, e todos nós sofremos juntos. Mas o NP impactou positivamente porque eu pude entender que muito mais que um site de notícias, o NP se tornou extensão da minha casa, da minha vida“.

Igor Rocha que chegou no NP em 2018, foi editor do jornal, e hoje é coordenador de comunicação do Notícia Preta /Foto: Divulgação

Mineiro nascido e criado em Belo Horizonte, Igor sonhava em ser jogador de futebol e jornalista, e começou aos 16 anos a trabalhar em uma rádio comunitária da sua cidade. Formado em jornalismo em 2011, entrou para o NP após se ver um anúncio no Instagram sobre a necessidade de colaboradores negros, e se candidatar. Com experiência em assessoria de comunicação parlamentar e em comunicação institucional, em prefeituras, Igor afirma que sentia que faltava alguma coisa em sua formação.

Faltava eu falar com os meus e para os meus. O NP veio para completar minha formação profissional e como ser humano também. Lembro que uma vez fiz uma matéria com dois cartunistas do Paraná e no final da conversa terminamos com um “tmj”. Ali foi a virada de chave na minha vida. Em qualquer outro lugar que eu tivesse passado, jamais terminaria uma conversa dessa forma“.

Criado profissionalmente em um ambiente de discussão política, Igor diz que por ser um espaço bastante preconceituoso já teve que encarar isso de perto. “Eu trabalhei em um gabinete que certa vez quis deixar meu cabelo crescer e o meu superior na época usou a seguinte frase: “Você vai cortar esse cabelo para pelo menos parecer limpinho, não é?” Na ideia dele, e do imaginário social, o black power, o cabelo de pessoas negras são sujos, mas eu precisava do emprego e não tinha essa rede de apoio que temos atualmente. Hoje, eu não me sujeitaria a passar por essa situação novamente“.

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Já no Notícia Preta, Igor não se recorda em que momento exatamente passou a ser editor do jornal, só lembra que foi “um processo muito natural“, em uma época que o NP possuía mais de 30 colaboradores, em todas as regiões do país.

Para ele, o NP é mais que um jornal. “Desde o início eu falava que o NP é uma família para todos nós, e é um “vício” pra mim. Já tentei sair do NP algumas vezes, por diversos motivos, seja pessoal ou profissional, mas o destino sempre me traz de volta. Ou às vezes a Thaís mesmo“, diz o jornalista que é o profissional mais longevo do portal.

Minha história dentro do NP se confunde com a própria história do portal pela intensidade de trabalhos que executamos. Quando eu entrei para o NP, nós tínhamos apenas 4 mil seguidores no Instagram, por exemplo. Era tudo mato! rsrs“, relembra Igor.

5 anos de Notícia Preta

Nesses anos de jornal, Igor destaca um momento de reconhecimento, que marcou bastante sua atuação no NP.

Um dos momentos mais marcantes pra mim foi, sem dúvida, o recebimento do Troféu Carolina Maria de Jesus de Direitos Humanos, por vários motivos. Primeiro porque estávamos há um ano e um mês no ar e ter esse reconhecimento com outros veículos que já estavam há oito, 10 anos no mercado, era muito significativo. Segundo porque Carolina Maria de Jesus também era mineira. Me senti duplamente agraciado com o momento“, diz o jornalista, que cita uma outra situação importante:

Outro momento marcante, mas muito triste, foi o caso da morte do menino Miguel, no Recife. Tínhamos um colaborador em Pernambuco e fomos os primeiros a dar essa pauta. Nos tornamos referência no assunto, com vários veículos “tradicionais” buscando informações conosco para soltar pelo menos uma notinha e depois apurar melhor. É a mídia independente pautando a mídia tradicional“.

Para o jornalista, a “primeira e a maior conquista do NP é a credibilidade jornalística” já que “sem ela, nenhum veículo de comunicação sobrevive no jornalismo“. Sendo um jornal factual, de hard news, Igor garante que o jornal se coloca como uma referência. “Público, seguidores nas redes sociais e até haters, vem por consequência de um trabalho bem feito“.

Pensando no potencial do jornal e o que ele representa, Igor afirma que espera que daqui a 5 anos, o Notícia Preta tenha voado ainda mais alto. “Daqui cinco anos o NP estará em um patamar muito acima do que as mídias independentes estão atualmente e estaremos em ambientes que as pessoas negras não alcançavam por vários motivos, mas que o jornalismo, como ferramenta de transformação social, consegue proporcionar“, diz Igor, que continua:

Em cinco anos nós saímos do zero absoluto e somos um dos maiores portais de jornalismo antirracista do Brasil. Já ouvimos que o nome Notícia Preta não era “vendável”. Estamos aqui, de desacreditados a referência“.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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