Os prédios do Centro de Belo Horizonte estão tomados por painéis de vários artistas, porém, o edifício Chiquito Lopes, na rua São Paulo, pode perder a imagem devido a uma ação judicial de apenas um único morador, alegando que a obra “é uma decoração de gosto duvidoso” e quer a retirada da pintura do prédio.
Em nota, o Circuito Urbano de Arte de Belo Horizonte (Cura), responsável pelas pinturas nos prédios da capital mineira, todos os procedimentos para a execução da pintura seguiram os trâmites legais e o Circuito assumiu também a reforma da lateral do prédio e a pintura em si. “O Síndico submeteu a questão ao Conselho Consultivo do Condomínio que decidiu pela aprovação da obra”, afirmou.
Criadora e criatura
A Híbrida Ancestral – Guardiã Brasileira, é uma obra de artista, negra e mineira Crioula. Segunda a autora, o mural retrata uma mulher negra com uma cobra coral em um útero e foi produzida entre o final de 2018 e início de 2019. Crioula disse que não se surpreende e que as obras de pessoas negras ou que representam a negritude sempre foram discriminadas pela sociedade. “Infelizmente eu não recebi isso como surpresa. Porque, sinceramente, quem é preto no Brasil tá infelizmente cansado de vivenciar várias questões relacionadas ao racismo, ignorância e preconceito. Meu sentimento é que to no caminho certo, to incomodando quem tem que ficar incomodado mesmo pra modificar as atitudes”, ressaltou.
Racismo estrutural e regime militar
O autor da ação cita uma lei do período ditatorial (Lei nº 4591/1964), que seria necessária a aprovação de todos os condôminos, por unanimidade, para que a obra fosse realizada no edifício. Porém, a legislação já foi revisada no Código Civil de 2002. “O processo do único morador insatisfeito pode ser interpretado como expressão do racismo estrutural, por se tratar de uma obra afrocentrada de uma artista descendente da diáspora africana”, afirma a nota do Cura.
Reações
Uma petição na internet está reunindo assinaturas contrárias ao apagamento da obra no edifício e, até o fechamento desta matéria, mais de 5 mil assinaturas já havia sido coletadas, contra a ação do morador.