Por Cléo Almeida
O Dia Nacional da Visibilidade Trans é celebrado em 29 de janeiro, mas o mês inteiro é dedicado a dar mais visibilidade para a causa. Nesta data, eu gostaria de abordar outros pontos além dos desafios enfrentados por pessoas trans e travestis na sociedade, mas a realidade é que todas as nossas vivências são permeadas por obstáculos que nos impactam em diferentes aspectos, desde saúde mental até o acesso a oportunidades educacionais e profissionais.
Essa realidade é mostrada, por exemplo, na pesquisa realizada pelo projeto TransVida, em 2022. De acordo com os entrevistados, as formas de violência mais comuns sofridas pelas pessoas trans são o desrespeito ao nome social (27,9%), a tortura psicológica (21,1%) e a proibição do uso de banheiro adequado ao seu gênero (20,4%). Além disso, a violência física foi relatada por 15,6% e 16,3% sofreram assédio sexual ou estupro.
Saúde mental e a busca pela estabilidade
As pessoas trans e travestis frequentemente enfrentam desafios intensos, devido ao estigma, o preconceito e a exclusão social, contribuindo para taxas mais altas de ansiedade, depressão e suicídio. Apesar dos avanços legais, como a possibilidade de alteração de nome e gênero nos documentos, ainda persistem dificuldades burocráticas e violações de direitos. A discriminação no acesso a serviços básicos, como saúde e educação, destaca a necessidade urgente de implementar de forma eficaz as políticas existentes.
Além disso , a violência contra esses corpos é uma triste realidade, manifestando-se em ataques físicos e verbais que resultam em crimes hediondos e assassinatos, colocando essa parcela da população em risco constante. Por isso, a conscientização e ações concretas são cruciais para garantir a segurança e o bem-estar.
Educação e emprego: barreiras a serem superadas
O acesso à educação e ao mercado de trabalho ainda é limitado pela discriminação, criando barreiras significativas para o crescimento pessoal e profissional. Com isso, a falta de oportunidades equitativas exige uma mudança urgente na forma como a sociedade lida com as pessoas trans e travestis. Dentro deste contexto, o Estado, os movimentos sociais e organizações não governamentais, precisam estar alinhados e comprometidos na defesa de direitos, geração de oportunidades e promoção do bem-estar.
Neste sentido, destaco não apenas a importância do engajamento coletivo para criar políticas inclusivas e igualitárias, como também mostrar possibilidades de uma realidade onde exista dignidade e justiça. Os programas educacionais também são muito importantes, pois oferecem suporte, orientação, direcionamento e mentoria, que desempenham um papel crucial na capacitação técnica e emocional, empoderamento e promoção da diversidade.
Representatividade: uma ferramenta para a mudança
A representatividade precária de pessoas trans e travestis, em diferentes setores, contribui para estereótipos prejudiciais. Na política, nos negócios e na mídia, a presença de vozes diversas é vital para criar espaços mais inclusivos e desconstruir preconceitos arraigados. Não há dúvidas de que a educação, aliada a uma política pública que reduza o estigma, é a chave para criar um ambiente mais seguro e fomentar a diversidade de identidades de gênero. Por fim, ouvir ativamente as necessidades da comunidade se torna indispensável para um suporte mais eficaz e holístico.
Sendo assim, devemos não apenas reconhecer esses desafios, mas também unir forças para criar uma sociedade mais justa e inclusiva, onde todas as identidades sejam respeitadas e celebradas.
*Cléo Almeida é Gerente de Comunidades e Comunicação da {reprograma}, iniciativa de impacto social que foca em ensinar programação para mulheres em situação de vulnerabilidade social, priorizando em seus processos seletivos mulheres negras e/ou trans e travestis
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