“Nunca fui identificado como branco”, comenta autor do documentário Autodeclarado

roseli.png

Maurício Costa é natural de Rio Grande do Sul.  O diplomata, crítico de cinema, professor e coeditor do site Razão de Aspecto, se mudou há mais de 10 anos para Brasília (DF). Nesse tempo, dirigiu os documentários “Era dos Gigantes” (2017) e “Uber x Táxis (2020)”, já disponíveis no streaming e sempre com reflexão e debate crítico sobre a sociedade.

Mauricio Costa recebendo o prêmio no Cataylst Festival em 2021 – Foto: Divulgação

Como homem não branco, ele conta que passou por uma experiência racial muito diferente do restante do Brasil. ”Cresci sofrendo racismo por ser não branco, nunca fui identificado como branco na minha vida. Para ser discriminado, era tratado como negro, para ser incluído, era tratado como ‘moreninho’, por exemplo”, como conta ele. Mesmo contrário à sociedade, ele conta que apegou à identidade negra ao invés de negá-la. Quando se mudou de Estado, teve um choque ao ser embranquecido pelas pessoas.

Já fora do seu Estado de origem, Mauricio ficou atento às fraudes nas cotas e a criação das chamadas comissões de verificação. “Fiquei muito perturbado em como determinadas pessoas eram acusadas de fraude, quando, na verdade, eram pardas e não brancas, e jamais seriam consideradas brancas onde eu cresci”, compara.

A partir do episodio das cotas raciais e com esse interesse em se aprofundar no colorismo brasileiro, o diretor produziu o documentário Autodeclarado. “Para quem cresceu na ambiguidade racial do Rio Grande do Sul, tão bem representada no romance O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório (vencedor do prêmio Jabuti), dirigir este filme foi uma experiência intensa”, conta ele.

O documentário tem o intuito de debater as fraudes cometidas por brasileiros brancos e as acusações contra brasileiros pardos nos programas de ações afirmativas para ingresso nas universidades e em concursos públicos no Brasil. O filme busca refletir de forma profunda sobre colorismo, racismo e identidade racial.

Tendo como ponto de partida as ações afirmativas e a comissões de verificação racial no Brasil, Autodeclarado discute racismo e colorismo, tratando temas de alcance universal na contemporaneidade. O filme dá voz a grupos sub-representados e traz debates importantes sobre identidade e representatividade.

De acordo com o diretor, o filme incita discussões sobre o tema, além de fazer com que grupos e ideais se sintam representados sem estereótipos. Ele ressalta também, que ainda existe uma barreira que precisa ser rompida:  a que separa o documentário da grande massa.

Durante a gravação do documentário – Foto: Divulgação

O filme Autodeclarado, de Maurício Costa, está inscrito no “Spirit Awards 2023”, e concorrendo na categoria de melhor documentário. O audiovisual terá lançamento limitado nos cinemas dos Estados Unidos, em novembro de 2022. No Brasil, o documentário é distribuído peala Bretz Filmes e está disponível nas plataformas digitais. Internacionalmente, é distribuído pela KDMG.

Leia também: Netflix anuncia data de lançamento de documentário sobre Racionais MCs

O diretor comenta que a inscrição no Spirit Awards é peça importante para chamar a atenção não somente para o filme, mas também para o tema e para o cinema independente brasileiro. “Entender o que é colorismo, como ela opera na sociedade brasileira e como o debate sobre as cotas, seguido da criação das comissões de verificação, mudou o debate sobre raça e influenciou a própria formação identitária do Brasil”, conclui Maurício.

Marina Lopes

Marina Lopes

Marina Lopes é jornalista e escritora juiz-forana, apaixonada pela palavra e por contar histórias através dela.

Deixe uma resposta

scroll to top