O incêndio de proporções gigantescas que atingiu um galpão da cinemateca Brasileira, na Vila Leopoldina, em São Paulo, na última quinta-feira (29), pode ter destruído o material restaurado do longa-metragem “Xica da Silva”, do cineasta Cacá Diegues e estrelado por Zezé Motta. Lançado em 1976 e restaurado em 2011, exatos 10 anos, a obra completa 45 anos em setembro. O incêndio destruiu 60 anos de história do cinema nacional e consumiu uma gama de documentos, materiais e acervos que ainda estão sendo contabilizados. A Polícia Federal investiga o caso.
Nas redes sociais, a atriz e cantora Zezé Motta lamentou o caso. “Perdemos 60 anos de história, toda a memória da política pública de apoio ao cinema. Além do patrimônio material, quatro toneladas de documentos históricos, cópias de filmes e objetos, perdemos nossa história, nossa cultura. Até quando esse descaso? A cultura arde em chamas no nosso país, não é de hoje. Parte da história do Brasil viraram fumaça. É lastimável”, comentou a eterna Xica da Silva em seu Instagram.
O filme conta a história da mulher escravizada que se tornou a primeira dama negra da história do Brasil. No ano em que foi lançado, 1976, o longa ganhou dezenas de prêmios: Melhor Filme; Melhor Direção e Melhor Atriz para Zezé Motta, no Festival de Brasília e no Prêmio Air France de Cinema do Rio de Janeiro. No Prêmio Coruja de Ouro, 1976, do INC – Instituto Nacional de Cinema, o filme levou nas categorias de Melhor Atriz para Zezé Motta, Melhor Atriz Coadjuvante para Elke Maravilha, Melhor Fotografia e Melhor Coreografia. Venceu também nas categorias Melhor atriz e Melhor montagem no Prêmio Governador do Estado de São Paulo de 1977.
Recentemente, o Festival de Cannes incluiu em seu acervo o cartaz original do filme, em homenagem ao Brasil. Zezé Motta comemorou pelo Instagram.
Na restauração do longa, que aconteceu em 2011 pela própria Cinemateca Brasileira, foi utilizada tecnologia digital 2k, o que equivale a 2 mil pixels por linha horizontal de cada fotograma, sem compressão. No site, a Cinemateca explica que “ao digitalizar o filme em película em 2k, cada fotograma passa a equivaler a uma imagem de aproximadamente 12 MB. Para se ter uma ideia da quantidade de informação gerada, um filme de 117 minutos de duração, como ‘Xica da Silva’, contém mais de 160 mil fotogramas”.
Os funcionários da Cinemateca Brasileira divulgaram um manifesto chamando o incêndio de “crime anunciado”, e indicaram as possíveis perdas. Segundo a nota, foram “possivelmente perdidos ou afetados” parte do Arquivo Embrafilme (1969-1990), do Arquivo do Instituto Nacional do Cinema (1966-1975) e do Conselho Nacional de Cinema/Concine (1976-1990).
Através do Twitter, o secretário de Cultura Mário Frias culpou o PT pelo incêndio: “O estado que recebemos a Cinemateca é uma das heranças malditas do governo apocalíptico do petismo, que destruiu todo o estado para rapinar o dinheiro público e sustentar uma imensa quadrilha de corrupção e sujeira criminosa. Não tivessem feito isto, teríamos verba para criar mil novas Cinematecas”, publicou.