Mandetta acusa Bolsonaro de tentar mudar a bula do medicamento cloroquina; Pesquisa mostra medicamento como ineficiente

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Estudo divulgado nesta sexta-feira (22) na revista científica The Lancet, revelam que a cloroquina e a hidroxicloroquina não tiveram efeito em pacientes hospitalizados com COVID-19 e podem aumentar o risco de morte

Até a pandemia, Bolsonaro e Mandetta viviam o que o presidente consideraria um “belo casamento”. Foto: Adriano Machado/Reuters

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou, em entrevista para a GloboNews, que o governo federal pretendia alterar a bula da cloroquina para incluir a recomendação para o tratamento da COVID-19, doença causada pelo novocoronavírus.

“O presidente se assessorava ou se cercava de outros profissionais médicos. Eu me lembro de quando – no final de um dia de reunião de conselho ministerial – me pediram para entrar numa sala e estavam lá um médico anestesista e uma médica imunologista, que estavam com a redação de um provável ou futuro, ou alguma coisa do gênero, um decreto presidencial. E a ideia que eles tinham era de alterar a bula do medicamento na Anvisa, colocando na bula indicação para COVID-19”, afirmou Mandetta em entrevista.

O ex-ministro, filiado ao partido Democratas (DEM), disse que o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres estava no encontro. “O próprio presidente da Anvisa se assustou com aquele caminho, disse que não poderia concordar. Eu simplesmente disse que aquilo não era uma coisa séria e que eu não iria continuar naquilo dali, que o palco daquela discussão tem que ser no Conselho Federal de Medicina”, completou Mandetta.

Luiz Mandetta reforçou a importância de que esse tipo de debate sobre o uso, dosagem, de medicamentos precisa ser feito com especialistas de saúde no Conselho Federal de Medicina. O primeiro ministro da saúde do governo Bolsonaro ficou pouco mais de 1 ano no cargo.

Os autores do estudo, publicado nesta sexta-feira (22) na revista científica The Lancet, enfatizam que a cloroquina e a hidroxicloroquina não tiveram efeito em pacientes hospitalizados com COVID-19. A pesquisa com 100.000 pacientes descartou a eficiência desses medicamentos para combater o coronavírus e ainda enfatizam que o uso pode aumentam o risco de morte.

Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores compararam os resultados de quatro grupos: aqueles que foram tratados apenas com hidroxicloroquina, apenas com cloroquina e dois grupos que receberam um dos dois combinado com antibióticos.

“O tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina não beneficia os pacientes com COVID-19. Pelo contrário, nossa constatação sugere que pode estar associado a um risco aumentado de problemas cardíacos graves e a um risco aumentado de morte”, afirma Mandeep Mehra, principal autor do estudo e diretor executivo do Brigham and Women’s Hospital Center for Advanced Heart Disease, em Boston.

Como deputado federal, Mandetta era conservador e opositor do governo de Dilma Rousseff, colocando-se contra programas como o Mais Médicos. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em maio de 2019, o ex-ministro da Saúde também falou em buscar uma “equidade” para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), que poderiam ter que pagar uma porcentagem do tratamento.

“É justo ou equânime uma pessoa que recebe 100 salários mínimos ter o atendimento 100% gratuito no SUS? Quem vai ter 100% de atendimento gratuito no SUS? Eu acho que essa discussão é extremamente importante para esse Congresso. Eu vou provocá-la, vou mandar a mensagem, sim, para a gente discutir equidade e esse ponto a gente vai por o dedo”, afirmou o então ministro em exercício, Mandetta.

Negros são maioria entre as vítimas fatais por Covid-19 no Brasil. Segundo o boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, na segunda-feira (18) 54,8% dos óbitos registrados são de pessoas pretas e pardas.
Entre os pretos e pardos, que somam o grupo de negros, a porcentagem passou de 32,8% para 54,8% entre 10 de abril e 18 de maio, um período de quatro semanas.

Segundo os especialistas, esse grupo é mais vulnerável por possuírem menor acesso ao serviço de saúde, serem maioria em favelas e bairros com menor estrutura sanitária, dentre outros indicadores socioeconômicos. Pouco mais de 11 mil enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem de todo o Brasil viraram pacientes. O que evidencia, também, o descaso com esse setor e a falta de preparação estrutural para a pandemia.

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