Mãe Senhora de Ewa, uma das Yalorixas mais velhas do país, completa 100 anos 

O terreiro Ilê Axé Omi Ewá, localizado em Salvador, entrou em festa neste domingo (11) para comemorar o centenário da Yalorixa Elza Bahia de Araújo, mais conhecida dentro da religião como Mãe Senhora de Ewa, uma das mais velhas do país.

A história de Mãe senhora com o candomblé começou depois de apenas 1 mês e 17 dias de seu nascimento, quando chegou no Gantois após perder sua mãe no parto. Lá, foi cuidada e criada por outras autoridades da religião, a Mãe Laura e a Mãe Menininha, importante Yalorixa do país. “Eu chamava ela [Mãe Menininha] de “minha tia’, porque ela me amamentou”, relembra.

Iniciada no candomblé em 1950, Mãe senhora é a Yewasse mais antiga do país e dedicou mais da metade de sua vida à religião, ganhando o respeito e admiração não só da casa de candomblé que comanda, mas de outras espalhadas pelo estado baiano. 

Leia mais: Humor e ancestralidade: Léo Santos cresce nas redes sociais com histórias sobre o Candomblé

Ogã e músico funda primeira Escola de Música com foco no ritmo dos Candomblés

Dentre todos os anos de dedicação à religião, ela foi mãe não apenas de seus seis filhos biológicos, mas também de diversos Filhos de santo espalhados pelo mundo. Nascida em 1922, Mãe senhora é considerada um acervo vivo e consciente da cultura AfroReligiosa do país e guarda não somente as vivências do terreiro, mas a experiência de presenciar muito da história do mundo acontecendo, como as ditaduras na América Latina e a 2º guerra mundial. “Eu sofri muito, nem gosto de lembrar o que passei pra criar tantos filhos. Eu fui mãe solo e para chegar a construir isso, trabalhei muito, muito mesmo, mas tá tudo bem. É um pedaço da minha vida”, comenta.

Inclusive, neste episódio da história, ela doou leite materno para a Legião Brasileira de Assistência, órgão público assistencial que tinha como objetivo amparar os soldados brasileiros e suas famílias. “Eles traziam uma caixa de leite em pó pra gente em troca do leite materno. Isso eu lembro bem”, afirma.

Ao ser questionada sobre a importância do papel da Yalorixa, Mãe senhora reconhece a sua responsabilidade, uma vez que “pegar na cabeça de uma pessoa é algo sério que muda o destino dos Filhos de santo”. 

Para ela, quem não aceita a religião não buscou entender o que o candomblé significa. “Tudo que tem na terra é plantado pelo Pai e nós temos que aceitar tudo que tem na terra que ele plantou. Nós somos todos irmãos”. 

Nas redes sociais do terreiro que comanda, o centenário de Mãe senhora foi celebrado. Além disso, foi compartilhado momentos da celebração. Para homenagear, uma postagem foi feita:. “É um dia de muita felicidade e agradecimento à Ewa por nos permitir fazer parte da história da nossa Yalorixá e por manter em nossa Mãe todo amor, autoridade e sabedoria que nos ajuda a trilhar com mais serenidade os caminhos da vida”.