Livro “Desaparecimento Forçado: Vidas Interrompidas na Baixada Fluminense” será lançado no Rio

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O livro “Desaparecimento Forçado: Vidas Interrompidas na Baixada Fluminense” é o relatório final de
um projeto de extensão e pesquisa fruto da parceria entre a Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ), através do grupo de pesquisa Observatório Fluminense, e o movimento social
Fórum Grita Baixada. O primeiro dia de lançamento acontece nesta terça-feira (26), na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

A publicação traz o mapeamento das diferentes dinâmicas de se fazer desaparecer pessoas na Baixada Fluminense, cuja autoria advém de grupos armados que podem ser agentes de segurança do Estado, milicianos ou traficantes de drogas. O segundo lançamento será no dia 05 de abril, Livraria Folha Seca, no Centro do Rio.

A fim de analisar os conceitos e principais aspectos dos desaparecimentos forçados, a equipe de pesquisa buscou realizar o levantamento bibliográfico sobre o tema através da catalogação de trabalhos e estudos acadêmicos concentrados nas áreas da sociologia, antropologia, direito, direito internacional e áreas correlatas. Em seguida, analisou artigos, teses, trabalhos acadêmicos e etnografias urbanas sobre o tema dos desaparecimentos forçados. Tal catalogação e leitura provocaram um entendimento sobre o assunto em pauta, as tramas envolvidas e a dificuldade de conceituação do fenômeno.

Capa do livro “Desaparecimento Forçado: Vidas Interrompidas na Baixada Fluminense” /Foto: Divulgação

No livro também são apresentados os principais aspectos e tratados internacionais que deram o tom ao
tema dos desaparecimentos, principalmente na América Latina, onde se encontra o Brasil e outros países marcados pela violenta herança de regimes ditatoriais que favoreceram o cenário dos desaparecimentos
até os dias atuais. Apresenta-se quais instrumentos legais internacionais e nacionais foram elaborados e quais países são signatários de tais medidas.

Por meio dessas análises, foi possível entender a situação dos países Latino Americanos e entender o debate nacional, além de perceber a posição do Brasil, a partir da subscrição aos tratados sobre o tema dos desaparecimentos e desaparecimentos forçados, na esfera internacional.

Há uma análise dos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) sobre desaparecidos e sua relação
com os desaparecimentos forçados” foram levantados através do banco de dados do Instituto de
Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) os dados relativos às seguintes variáveis de análise: pessoas desaparecidas, homicídio doloso e morte por intervenção policial entre os anos de 2016
e 2020.

Essas informações foram coletadas em todos os municípios que compõem a Baixada Fluminense e na cidade do Rio de Janeiro para fins de comparação. A pesquisa orientou-se por analisar as denúncias que chegaram ao Disque De núncia e que tem correlações com os desaparecimentos forçados.

O banco de dados disponibilizado pelo Disque Denúncia ficou sistematizado através dos seguintes
assuntos: 1) Cemitério Clandestino; 2) Destruição/Subtração de Cadáver; 3) Encontro de Cadáver; 4)
Furto/comércio de ossos, membros e órgãos; 5) Pessoas Desaparecidos e 6) Tráfico de Mulheres. Por
fim contabilizou-se um banco de dados de 1.738 denúncias que foram lidas, catalogadas através de um
sistema classificatório e separadas nos seguintes campos analíticos: localidade do aparecimento do
corpo; estado de decomposição e putrefação do corpo; execução sumária e/ou desaparecimento forçado
envolvendo tráfico, milícia e/ou polícia; destruição de cadáver envolvendo carbonização de corpos;
cárcere/detenção clandestina e sequestro; cemitério clandestino; organizações criminosas que realizam
extorsão/ameaças e desaparecimentos.

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Experiência com arteterapia

O livro também relata o trabalho junto a mães e familiares de vítimas da violência de Estado, trazendo o
cotidiano de técnicas reparação psíquica como a arteterapia. A partir de entrevistas e conversas feitas com mães e familiares de vítimas de desaparecimentos forçados na Baixada Fluminense, realizou-se 5
encontros com o grupo de mães e familiares.

No primeiro encontro, 13 mães relataram as experiências de desaparecimentos e busca pelos seus entes; em outros 4 encontros, foi realizado com as mesmas mães o projeto de Arteterapia; promovida por uma profissional de psicologia que orientou atividades de acolhimento e escuta, juntamente com trabalhos manuais e artesanais, levando em consideração o respeito, delicadeza e a sensibilidade que o tema demonstra. Os relatos e as entrevistas forneceram importante compreensão sobre o fenômeno da violência de desaparecimentos forçados observado pelas experiências de quem vive a dor da perda do seu ente sem a possibilidade do luto e confirmação da morte.

Análise em meios de comunicação e redes sociais

O livro contém uma “Análise exploratória sobre Desaparecimentos Forçados nos jornais da Baixada
Fluminense” a partir do levantamento de matérias relacionadas a assuntos e categorias que tratavam de
casos de desaparecimentos entre 2015 e 2021. A forma de busca foi feita através das páginas dos jornais, usando as palavras desaparecido, desaparecida, desaparecidos, desaparecidas. Importa explicar que a escolha dos jornais se orientou pela qualidade das ferramentas de busca que possuíam.

Os que estabeleceram predominância e relevância no assunto foram os seguintes: O Dia, Seropédica Online, Notícias Queimados, Notícias Duque de Caxias e Notícias Nova Iguaçu. No total foram analisadas 36 notícias.

Sobre a busca, identificação e análise de páginas do Facebook da Baixada Fluminense, foram catalogadas são as seguintes: “Guapimirim ao vivo” (91 mil seguido res), “Seropédica online” (20 mil seguidores) “Caxias da Depressão” (508 mil seguidores), “Plantão Mesquita Nilópolis” (111 mil seguidores), “Notícias de Belford Roxo” (311 mil seguidores), “Itaguaí News” (13 mil seguidores), “Amigos de Nilópolis” (106 mil seguidores) e “Jornal Meriti Baixada” (29 mil seguidores). Foram encontradas 154 notícias/postagens nessas páginas que se aproximam das características de desaparecimentos forçados.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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