O livro “Dançando na mira da ditadura: bailes soul e violência contra a população negra nos anos 1970” descreve como artistas negros brasileiros eram vistos pelo regime militar como filiais brasileiras do Partido do Panteras Negras. A obra foi escrita pelo historiador Lucas Pedretti e traz dossiês como monitoramento de artistas como Tony Tornado que chegou a ser preso nove vezes pelo Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS.
A pesquisa, que inicialmente foi feita por Pedretti na sua dissertação de mestrado, será publicada neste ano pelo arquivo nacional e descreve a perseguição da ditadura a todo movimento Black Soul no Brasil. “Ocorreu um intenso monitoramento dos bailes Black e, por isso, também de figuras como Gerson King Combo e Tony Tornado, artistas que se destacavam no soul brasileiro”, contou o historiador em entrevista ao jornal O Globo.
Um dos documentos encontrados por Pedretti é um arquivo nomeado como confidencial da Aeronáutica, datado de 20 de setembro de 1977. O dossiê reunia panfletos de divulgação dos bailes e tinha como alvo de investigação o “Movimento Nacional dos Blacks”- Black São Paulo e Rio de Janeiro. O monitoramento de Gerson King Combo é descrito pelo autor como um exagero do regime, já que no caso de King, o artista só queria dançar.
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Já Tony Tornado, foi alvo do Centro de Informações do Exército durante o 5° Festival Internacional da Canção em 1970 e, segundo o livro, era foco constante de dossiês e investigações. Em um dos documentos intitulado “Flávio Cavalcanti, Tony Tornado e Danuza Leão tentam suscitar o problema da discriminação racial no Brasil”, os militares caracterizam o punho levantado, gesto que Tony fazia publicamente e em apresentações, tratava-se de “gesto-símbolo do poder negro (comunista)”, importado dos Estados Unidos.
Tony e outros artistas eram considerados uma suposta filial do Partido dos Panteras Negras, no Brasil. Quando em 1971, Tony Tornado invadiu o palco durante a apresentação de Elis Regina que cantava “Black is Beautiful”, ele saiu da apresentação já algemado. Sobre o episódio, o livro “Dançando na mira da ditadura: bailes soul e violência contra a população negra nos anos 1970”, conta que a ação era prevista em um dos relatórios. O autor explica: “toda máquina policial se movimentou nos bastidores do Maracanãzinho para impedir os gestos de caráter político do cantor, ou seja, a saudação à moda dos Panteras Negras”, finaliza.
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