94% das jovens negras brasileiras LGBTQIAPN+ já sofreram preconceito em sala de aula, diz estudo

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No Brasil, praticamente todas as jovens e adolescentes negras (94%) que se identificam como membros da comunidade LGBTQIAPN+ já sentiram ou presenciaram situações de preconceito na escola ou na faculdade.

Esse é um dos achados da segunda edição da Pesquisa Diversidade Jovem do Ensino Social Profissionalizante (Espro), voltada a mapear as percepções de adolescentes e jovens sobre os desafios relacionados a temas como etnia, orientação sexual, identidade de gênero e a vivência de suas diversidades no mercado de trabalho, nos ambientes de ensino e em espaços públicos.

A pesquisa revela um dado estarrecedor – Foto: Freepik

Segundo o levantamento, 90% das jovens negras LGBTQIAPN+ passaram por situações de preconceito no ambiente familiar; 88% em serviços, locais públicos e ambientes coletivos, como lojas, restaurantes e eventos; 83% em espaços religiosos; e 49% no trabalho.

A pesquisa ainda aponta que 80% destas meninas esconderam ou omitiram alguma característica da sua diversidade em ambientes familiares e 70% passaram por isso na escola ou faculdade. No trabalho, em locais públicos e lojas e em espaços religiosos, a quantidade de jovens que deixaram de viver sua diversidade por receio é de respectivamente 55%, 65% e 69%.

A Pesquisa Diversidade Jovem 2023 ouviu 2.738 adolescentes e jovens, com idades entre 14 e 23 anos, que são ou já foram aprendizes, estagiários e alunos do curso de Formação para o Mundo do Trabalho (FMT) do Espro. A coleta das respostas aconteceu entre os dias 1º de agosto e 07 de setembro de 2023. O índice de confiabilidade é de 99% e a margem de erro é de 2,3%.

Adolescentes e jovens LGBTQIAPN+

Do total de participantes do estudo, 861 (31%) se identificaram como membros da comunidade LGBTQIAPN+ (não cisheteronormativo). Mais da metade destes jovens (54%) está em situação de alta vulnerabilidade social.

Considerando-se tal grupo, a situação é tão ruim quanto a das meninas: 92% afirmam que já presenciaram ou sofreram preconceito por conta da sua diversidade na escola ou faculdade, sendo que 56% afirmam presenciar ou sofrer preconceito várias vezes ou sempre.

Em ambientes familiares, 89% presenciaram ou sentiram o preconceito. Metade desses jovens dizem passar por isso várias vezes ou sempre. Devido a isso, 78% afirmam que já esconderam ou omitiram sua diversidade na vivência com a família. Desse total, 37% fazem isso sempre. Para 88%, situações de preconceito em serviços como transporte, consultórios, restaurantes e eventos é constante em suas vidas.

“A nova edição da pesquisa mostra que, mesmo com altos índices de situações preconceituosas, os locais de ensino ainda são ambientes onde 86% dos jovens LGBTQIAPN+ conversam sobre diversidade. Além disso, quando os jovens estão entre os seus em passeios, festas e momentos de lazer, 87% sentem-se à vontade para conversar sobre diversidade. Isso mostra como a sociedade ainda restringe e inibe os jovens LGBTQIAPN+ de viver sua diversidade livremente, de ser quem eles realmente são sem se preocupar com sua segurança e seu bem-estar social”, observa Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro.

Perfil dos entrevistados

A Pesquisa Diversidade Jovem 2023 foi realizada por meio de um questionário online estruturado com 29 perguntas. Participaram do levantamento jovens de 15 estados mais o Distrito Federal, com predominância de pessoas de São Paulo (48%), Rio de Janeiro (12%), Pernambuco (10%) e Minas Gerais (9%).

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Os respondentes têm idade média de 19 anos, com a maioria habitando lares com três ou quatro moradores (61%) e de famílias com renda média de até três salários mínimos (72%).

O objetivo central do estudo é identificar o perfil de diversidade dos participantes de cursos e projetos do Espro para o embasamento das estratégias de acolhimento e impacto social, além da construção de ações direcionadas à redução das desigualdades, à inclusão no mercado de trabalho e ao fomento da consciência social.

Nesse sentido, também foram colhidas percepções dos adolescentes e jovens quanto ao envolvimento do Espro em questões de diversidade e 68% deles afirmaram já terem ouvido algum comentário positivo de um funcionário do Espro defendendo a diversidade. Entre as jovens negras que se identificam com a comunidade LGBTQIAPN+, esse índice sobe para 78%.

“As organizações, em geral, estão cada vez mais conscientes da importância dos ambientes inclusivos e plurais. Não apenas por política de responsabilidade social, mas para a própria sustentabilidade dos negócios, uma vez que a diversidade traz para dentro das empresas a realidade do nosso país, da nossa cultura, do nosso povo, permitindo uma conexão mais verdadeira da empresa com seus diversos públicos de interesse”, afirma Alessandro Saade.

“É gratificante observar esse avanço, mas o desafio ainda é grande para capacitar e desenvolver os jovens buscando dar-lhes autonomia para serem agentes transformadores da sociedade”, finaliza..

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