“O fogo está fora de controle, está devastando tudo por aqui“. Esse é o relato angustiado de Elimilson Guajajara, morador e liderança da Terra Indígena Canabrava, no município de Jenipapo dos Vieiras, no norte do Maranhão. Há mais de dois meses, incêndios destroem terras e ameaça a vida dos indígenas, conforme conta a liderança em entrevista exclusiva ao Notícia Preta.
A região, que também abrange Barra do Corda, é uma das mais atingidas pelas chamas, que, segundo as lideranças locais, começaram nas proximidades da BR-226 e se espalharam rapidamente. O incêndio, além de destruir plantações de mandioca e outras áreas agrícolas, ameaça aldeias e animais da fauna local.
“O fogo está se arrastando, destruindo tudo o que encontra pela frente. Animais estão sendo queimados, e é muito difícil de conter. Estamos pedindo socorro. As brigadas precisam vir, e os bombeiros também. Nós não temos o equipamento necessário para combater o incêndio“, desabafa Elimilson.
De acordo com Gilderlan Rodrigues da Silva, conselheiro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, a situação é crítica não só em Canabrava, mas em outras terras indígenas da região, como a Terra Indígena Canela e Porquinhos. “Os povos estão fazendo o possível para combater as chamas, mas o fogo se espalha com muita velocidade, e as brigadas, apesar do esforço, ainda não têm recursos suficientes. A destruição já dura meses em algumas áreas“, afirmou Gilderlan.
Elimilson, que acompanha de perto o avanço das chamas, lamenta a falta de apoio. “Já faz dois meses que o incêndio começou, e até agora não tivemos o suporte necessário. As brigadas do Preve-Fogo não têm transporte ou equipamentos adequados. Enquanto isso, o fogo avança e a situação se torna insustentável“, relata. Ele também compartilhou um episódio impactante: “Presenciei a morte de um jacaré e a destruição de uma área que preservávamos. Tudo foi consumido pelo fogo“.
A situação é ainda mais preocupante pela destruição das florestas e áreas de cultivo, que colocam em risco a segurança alimentar das comunidades indígenas. “As queimadas estão destruindo árvores frutíferas e áreas de roça, o que pode levar os povos a depender de alimentos da cidade, algo extremamente prejudicial ao bem-estar e ao modo de vida das aldeias“, acrescentou Gilderlan, ressaltando a urgência da situação.
Apesar dos esforços voluntários de algumas pessoas da aldeia, a falta de equipamentos e EPIs adequados coloca a vida de todos em risco. “Alguns aqui estão tentando apagar o fogo por conta própria, mas sem a proteção necessária, estão arriscando suas vidas. Precisamos de ajuda urgente dos órgãos federais, estaduais e municipais. Não podemos mais esperar“, alerta Elimilson.
Nas últimas 48 horas, o Maranhão registrou 243 novos focos de incêndio, de acordo com o Corpo de Bombeiros, com grande concentração em regiões de baixa umidade, como Mirador e Alto Parnaíba. O estado está sob um decreto que proíbe o uso de fogo em áreas rurais até o final de novembro, mas, para as comunidades indígenas, o suporte emergencial ainda é insuficiente.
Enquanto as chamas continuam devastando a Terra Indígena Canabrava, a sensação de abandono aumenta. “Estamos aqui de braços abertos, esperando por qualquer tipo de ajuda que venha. O fogo está devastando tudo: casas, animais, a nossa vida. E estamos sozinhos nessa luta“, afirma Elimilson, em um apelo desesperado por ações imediatas.
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A devastação nas terras indígenas Canabrava deixa um rastro de destruição e angústia, enquanto as comunidades aguardam por ajuda efetiva. “Se não houver uma intervenção rápida, o fogo vai consumir tudo o que temos e somos,” alerta Elimilson Guajajara. Gilderlan Rodrigues finaliza e reforça a urgência: “Esse fogo não destrói apenas árvores e animais, ele ameaça toda a existência dos povos indígenas.”