Funcionários do Santos denunciam casos de racismo e assédio moral: “aqui é a senzala”

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Segundo reportagem divulgada pela ESPN, nesta quarta-feira (23), Roberto Rabelato, gerente de controladoria do Santos admitiu ter dito “aqui é a senzala” ao abrir a porta de uma sala em que estava um advogado negro. O caso agora com a Divisão de Inquérito e Sindicância.

Quando eu cheguei aqui, eu pensei que ia ser diferente. Porém, o Rabelato nunca me deu uma oportunidade. Ficou o tempo inteiro segurando as coisas. Tinha que ser do jeito dele, certo? Eu tenho 33 anos de advocacia, acho que alguma coisa eu entendo. Em nenhum momento tivemos um relacionamento. Ele mal olhava na minha cara, mal dava bom dia e dizia para mim que queria distância. Eu sou homem e não falava nada porque acho que é assim que tem que ser levado“, disse o advogado.

Vila Belmiro, estádio do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Então estou falando na cara dele aqui, nos olhos dele. Que ele diga aqui que não abriu um dia a porta da sala lá e disse “aqui é a senzala”. Quero que ele diga isso, que não falou isso. Eu fiquei tão estupefato que eu não acreditei. Então quero que ele diga na minha cara que ele tem algum problema comigo por eu ser negro porque eu não acredito nisso. Agora, que ele falou isso na minha cara, ele falou. Mas ele não falou assim diretamente. Ele abriu a porta, olhou e falou ‘ah, aqui é a senzala’. Por que ele fez isso? Não sei. Está engasgado aqui“, desabafou o funcionário.

Rollo, que estava presente na reunião, alertou para a gravidade da acusação e prometeu marcar uma reunião com Rabelato. Em áudio divulgado pela reportagem, ele confirmou o que disse ao advogado. “Procede, sim“, admitiu o gerente.

O caso vem a tona na mesma semana em que o clube acolheu o garoto de 11 anos vítima de injúria racial. Outra acusação divulgada, desta vez por uma integrante do departamento de Recursos Humanos do Santos, foi de assédio moral. Assim como o advogado, ela também é negra. O acusado é Luiz Eduardo Silveira, superintendente administrativo e financeiro.

A funcionária disse ter sido humilhada pelo dirigente. A vítima garantiu ter cobrado explicações presidente Orlando Rollo, que não teria tomado nenhuma atitude após um mês a denúncia.

A profissional foi contratada para ser supervisora do RH, mas, sem explicações, acabou realocada por Luiz Eduardo Silveira no setor de marketing.

(Ele) me colocou em uma mesa no fundo da sala, sem computador, cortou meu acesso ao e-mail e não explicou nada. Desde o começo, eu avisei ao presidente. Falei tudo que estava acontecendo desde o começo e as coisas foram piorando. O Luiz me tirou do RH, me humilhou e continuou me ignorando no clube como se eu não existisse (…) Falou que eu não tinha perfil para ser do RH, não tinha perfil para ser gerente de RH e, muito menos, para ganhar o salário que me foi oferecido. E começou a me humilhar“, contou a funcionária.

Eu perguntei como ele podia falar uma coisa se nem viu o trabalho. E ele continuou a me humilhar. Falou: “Seu salário vai ser esse, não deixei o presidente dar o salário que ele queria te pagar. E vocês não têm direito à moradia, só quem tem moradia é superintendente”. Ele ficou me humilhando o tempo todo“, declarou a profissional.

Em nota enviada à ESPN, o Santos declara que: ““O presidente eleito do Santos, Andres Rueda, soube pela imprensa das acusações de racismo feitas entre funcionários do Clube. Aguardamos o posicionamento da atual gestão do Clube e esperamos apurações aprofundadas sobre esses casos de discriminação. Segundo Rueda, “não será tolerado nada nesse sentido e esperamos que providências enérgicas sejas tomadas pela atual gestão”.

Roberto Rabelato e Luiz Eduardo Silveira foram contratados recentemente pelo presidente Orlando Rollo, que assumiu o cargo após José Carlos Peres, o ex-mandatário, ser afastado, primeiro provisória e depois definitivamente.

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