Museu da Cidade realiza exposição “Intersecções: Negros(as), Indígenas e Periféricos(as) na cidade de São Paulo”

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O Museu da Cidade, de São Paulo, inaugurou a exposição “Intersecções: Negros(as), indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo”. Fotografias, pinturas, vídeos, instrumentos musicais e figurinos compõem os mais de 300 objetos produzidos por cerca de 100 artistas paulistanos, nos últimos 40 anos.

Com entrada gratuita, o evento ficará aberto até o dia 28 de julho, de terça a domingo, das 9h às 16h. A exposição conta com a conceituação e curadoria da empresária Adriana Barbosa, do jornalista Nabor Jr. e do historiador Eleilson Leite, além da colaboração da líder indígena Jera Guarani.

O historiador Eleilson Leite, ao lado da empresária Adriana Barbosa e do jornalista Nabor Júnior, curadores do evento – Crédito: Divulgação

A ideia é possibilitar a compreensão sobre os espaços, pessoas e simbologias que narram histórias. Em entrevista ao Notícia Preta, a curadora e empresária Adriana Barbosa revela que a repercussão superou as expectativas. “O lançamento da exposição foi realizado no dia do aniversário de São Paulo, ou seja, feriado e muitas atividades e shows gratuitos pela cidade. Foi uma grande surpresa saber que tantas pessoas se deslocaram até o Museu da Cidade para conferir a exposição que pensamos e criamos, ao lado de diversos artistas, com tanto afeto”, disse.

“As pessoas relatam que estão conseguindo se enxergar na construção de uma história que faz com que estejamos aqui hoje. Estão vendo os movimentos emancipatórios associados a muitas causas ativistas, que contam as nossas histórias em que pessoas pretas, periféricas e indígenas não são coadjuvantes, são protagonistas da revolução”, revelou sobre a resposta do público.

A mostra apresenta movimentos artísticos e culturais que contribuíram para fomentar as narrativas representativas do povo paulista nos últimos 40 anos, fundamentais para a construção da cultura paulistana. Os primeiros 200 visitantes receberam um colar consagrado pelo Pajé da Aldeia kalipety, da terra indígena Tenondé Porã, com a água da cachoeira Capivarí. 

A exposição é estruturada em três eixos: Territórios, Sujeitos e Imaginários. A mostra proporciona ao público uma imersão na própria identidade de forma lúdica, sensorial e educativa. 

O eixo ‘Territórios’ faz alusão ao Quilombo urbano Aparelha Luzia, ao Museu Afro Brasil, ao Centro Cultural Quilombaque, à Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, à Feira Preta, ao Festival BixaNagô, às rodas de samba como o Pagode da 27 e o Samba da Vela. 

No eixo ‘Sujeitos’, destacam-se os vídeos da equipe de baile Black Mad e Zezão Eventos e os populares fluxos das comunidades Heliópolis e Paraisópolis. Em ‘Imaginários’, a reflexão gira em torno da popularização da expressão “da ponte pra cá” e do tradicional futebol de várzea, abrindo espaço para o futebol amador das periferias. 

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As fotos da galeria são do chamado “Núcleo Negro” – Crédito nas imagens

Produção cultural periférica

Adriana destaca também a periferia como um local de produção de cultura. Visto que grandes espaços ainda são mais preenchidos por uma arte elitizada (branca), ela considera importante “dizer para a juventude periférica, em sua maioria negra, que ela traz a concepção intelectual a partir de seus repertórios e que de alguma forma tem influenciado no que chamamos de tendências”, afirma.

A periferia passa a ser o centro da produção cultural e intelectual que influencia nos centros das cidades, refletindo as suas criações em museus e galerias de arte, protagonizadas pela elite branca, mas influenciada pela estética preta e periférica”, completa Adriana.

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Sobre questões atravessadas pelo racismo, Adriana afirma que a melhor forma que reescrever a nossa história é “se aquilombando, atuando em comunidade, nos reconhecendo nas referências de potências negras, periféricas e indígenas que contribuíram para a nossa identidade cultural.”

E acrescenta: “O que temos hoje é fruto da coletividade, irmandade dos movimentos sociais e negros que não pararam de lutar até conquistar espaços e direitos. Somos a segunda maior população negra do mundo, só perdemos para a Nigéria, um país africano.”

Adriana cita a Feira Preta como ferramenta para formação da identidade. “Muitas mulheres negras, que passaram a fazer o processo de transição capilar, e crianças negras que passaram por mais de 20 anos de história se deliciam no espaço infantil, conscientemente construído para trazer a dimensão da valorização da nossa cultura e das nossas criações”, exemplifica.

“Mas o caminho não foi fácil. O racismo estrutural, por diversas vezes, atravessou a história do Festival. Mas eu me agarrei às redes pretas, a muitas comunidades, além de  familiares, amigos e aliados que decidiram se juntar a nós, e foi possível chegarmos onde chegamos. Foi menos doloroso e menos solitário“, lembra.

Mais de 500 pessoas já passaram pelos ambientes interseccionados da exposição.

SERVIÇO

Exposição ‘Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo

Local: Solar da Marquesa de Santos e Casa da Imagem/Museu da Cidade de São Paulo 

Endereço: R. Roberto Simonsen, 136 e 136 B – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP, 01017-020

Período de visitação: Terça a domingo, das 09h às 16h, até 28/07.

Izadora Feitosa

Izadora Feitosa

Jornalista, nordestina de Recife - PE. Pós-graduanda em Assessoria e Gestão da Comunicação, escreve sobre cultura, sociedade, processos de comunicação e TEA

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