Estudo aponta que 60% das favelas não recebem obras de prevenção de riscos, frente à crise climática

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A TETO Brasil e o Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper divulgaram o Panorama Climático das Favelas e Comunidades Invisibilizadas, amanhã (14), em Brasília. O  estudo tem o objetivo de visibilizar a violação de direitos nestes territórios e subsidiar decisões do poder público com relação às políticas de enfrentamento das consequências da crise climática.

O Panorama Climático das Favelas e Comunidades Invisibilizadas é a segunda edição do estudo realizado pela TETO, em parceria com Insper. O objetivo é aumentar o volume de dados sobre comunidades que, dada sua precariedade, são frequentemente ignoradas por outros levantamentos. Em 2025, foram mapeadas 119 comunidades, em 51 municípios de  todas as regiões do Brasil.

Foto: Divulgação Teto Insper

O evento de lançamento do Panorama Climático reunirá autoridades do governo federal, pesquisadores acadêmicos, lideranças comunitárias de diferentes Estados e representantes das organizações envolvidas no estudo. A apresentação dos principais resultados será seguida de debates entre os participantes e ocorre no auditório do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da UnB, em Brasília. O acesso ao espaço é gratuito, mediante inscrição prévia.

As favelas e comunidades invisibilizadas, são caracterizadas pela ausência de habitações minimamente dignas e seguras, infraestrutura de saneamento básico e acesso à água tratada, rede de fornecimento de energia elétrica, além de conviverem com riscos de deslizamentos, enchentes, animais peçonhentos e insetos.

Camila Jordan, diretora de Relações Institucionais e Incidência da TETO Brasil, explica que “este estudo traz uma visão e perspectiva inovadora e de extrema importância para a discussão das mudanças climáticas, que é como as comunidades e favelas mais afetadas percebem os impactos e quais soluções desenvolveram para a sua própria sobrevivência frente ao vazio do Estado”

Alguns dados apurados pelo estudo indicam o nível de vulnerabilização destes territórios. Por exemplo, 69% das comunidades não têm acesso à rede de saneamento básico e 70% dos territórios não possuem sistema de drenagem, deixando os habitantes mais expostos a doenças e enchentes.

Esse cenário prejudica diretamente as populações locais – impactos na saúde, segurança, alimentação e aspectos financeiros – e influencia indiretamente na questão da saúde mental dos moradores. O reflexo dos eventos enfrentados por essas comunidades ainda é incomensurável, mas o Panorama consegue revelar, por exemplo, que o medo de eventos climáticos, que aconteceram ao menos uma vez desde janeiro de 2024, é constante para 86% dos entrevistados.

Os eventos apontados no estudo foram: ondas de calor intenso (71%), tempestades e vendavais (56%), enchentes (54%) e ondas de frio e falta de água (50%).

“Como podemos ver no estudo, é urgente escutar e trabalhar em conjunto com as lideranças comunitárias e comunidades”, detalha Camila. “Precisamos ir além de somente conhecer as realidades desiguais, precisamos trabalhar de forma coordenada e coletiva, buscando preparar as comunidades para a nova realidade climática, revertendo décadas de ausência de políticas públicas de maneira a garantir a dignidade e segurança para milhares de famílias que vivem em condições hiper precárias. Esperamos que o Panorama contribua para o debate e a ampliação e implementação de políticas públicas e ações de resiliência e adaptação aos desafios enfrentados pelas populações que residem nessas comunidades.”

Para Inês da Silva Magalhães, vice-presidente de Habitação, da Caixa Econômica Federal, e uma das palestrantes confirmadas no evento de lançamento, “o Panorama Climático é uma importante iniciativa para organizar e sistematizar informações, vozes e experiências de territórios, muitas vezes invisibilizados, mas altamente impactados pelas mudanças do clima. Trata-se de ferramenta com potencial de orientar políticas públicas e investimentos mais justos e eficazes”.

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O panorama contou com a parceria acadêmica do Insper Cidades, que apoiou na metodologia, na revisão do documento e acompanhou o desenvolvimento do estudo. Segundo Hannah Arcuschin, coordenadora adjunta e pesquisadora do programa Cidade +2°C do Insper Cidades, “a resiliência das comunidades passa pela governança inclusiva e participativa“.

Por isso, este estudo não poderia ser diferente: ele parte da ciência cidadã, da escuta de quem vive o risco, para que essas vozes sejam incorporadas na formulação das soluções. O estudo completo estará disponível no site da TETO e do Insper.

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