“Ela é um Orixá”, reflete Érico Brás sobre sua forma de ver a arte

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“Eu nasci com a arte em mim”, é assim que o ator, cantor, apresentador e empresário Érico Brás, 43, define sua relação com o universo artístico. Nascido em Salvador, ele já passou pelo Bando de Teatro Olodum. Entre alguns de seus trabalhos atuou no filme “Ó paí ó e,, já na Rede Globo, trabalhou na minissérie Tapas e Beijos, e atualmente dá vida ao personagem Eudoro Cidão na novela das 18h, Mar do Sertão. 

Em um bate-papo descontraído com a reportagem do Notícia Preta, o ator fala sobre sua vida, carreira, e, claro, sobre o personagem que interpreta na trama. “Ele não é só um jornalista, ele é o dono do jornal. Era importante ter uma pessoa negra como dono do jornal da cidade”, analisa.

Érico acredita que a arte é um Orixá – Foto: Arquivo Pessoal

“O autor me deu liberdade de criar coisas, fui propondo algumas características do personagem que ficaram legais, como por exemplo a língua presa com o fato dele ser um comunicador”, conta o ator sobre a construção de seu personagem.

“Ele também é gay em uma cidade dura, machista e cristã, por isso é mais contido. Mas nem por isso é bonzinho. O Eudoro é um bajulador, é um cara que tem interesses”, afirma.

Empreendimento

Como empresário, Érico inaugurou a rede de restaurantes “Ó paí, ó” em 2021 , no Pelourinho, em Salvador. Ele conta que a ideia surgiu após visitar o Harlem, um bairro majoritariamente negro em Nova Iorque. No local ele conheceu um restaurante chamado Vermelho. 

O restaurante é localizado no Pelourinho, em Salvador – Foto: Arquivo Pessoal

“Todos estavam reunidos ali no restaurante, muito bem arrumados, bebendo champanhe, vinho, comendo comida local e ouvindo jazz. Eu falei cara, como é que o Brasil não tem isso? Com um percentual de negros que nós temos, o Brasil não ter um lugar desse ficou na minha mente”, explica.

O ator, que já tinha o hábito de cozinhar, explicou que se aprimorou durante a pandemia, e fazia lives enquanto preparava pratos. “Eu disse para as minhas colaboradoras da cozinha: quero que as pessoas se sentem para comer no meu restaurante, e tenham a mesma sensação que eu tenho quando como a comida da minha mãe”, afirma Érico.

“Eu não chamo de restaurante, eu chamo de terreiro gourmet, nós temos um terreiro. As pessoas que chegam lá vem de tudo quanto é lugar do mundo e passam o dia comendo e bebendo. Elas consomem não só o que é preparado na cozinha, e que a gente faz com muito prazer e amor, mas também absorvem toda a espiritualidade que tem no ambiente”, aponta. 

Para o ator global, a espiritualidade se faz presente em todos os aspectos de sua vida, na música não foi diferente. “A minha experiência com música vem desde criança. O Olodum e o Ilê são blocos que fazem parte da minha formação enquanto pessoa negra porque as letras sempre contavam alguma coisa do continente africano. O cantar deles vem das ruas, vem do Candomblé, isso ajudou na minha formação”, relembra.

Foi durante o período pandêmico que ele pôde se dedicar ao álbum. “Na pandemia eu estava com um tempo um tanto quanto ocioso e acabei me organizando e gravando um disco. As músicas são muito verdadeiras e tem a ver com coisas que eu tava passando no momento, já outras são composições aleatórias”, enfatiza. 

Nas redes sociais, Érico sempre posta fotos com uma imagem de Exu. “Eu sou iniciado em Exu, ele é meu Orixá junto com Xangô e Ogum. Exu é a dualidade do ser humano, ele transita entre tudo que a gente conseguiu nomear de bom e nomear de ruim. Isso é muito na minha vida”, conta. 

Projetos

O ator conta que vem trabalhando em um livro com diversas reflexões, principalmente sobre pessoas negras, suas relações com o mundo e suas lutas. “Nós, enquanto pessoas pretas, precisamos pensar em uma forma diferente de sair do modo de discussão que nós estamos, e entrar no modo de ação”, explica. A princípio Érico conta que o livro se chamará “A gente precisa avançar um pouco”.

Polianne Lima

Polianne Lima

Polianne Lima é estudante e estagiária de jornalismo na TV Cultura de SP. Nasceu e cresceu no fundão da zona leste e, apesar dos 25 anos, ainda não sabe andar de bicicleta.

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