Empatia à deriva? Desvendando o disfarce do ódio em meio às tragédias climáticas

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Em meio à comoção nacional desencadeada pela tragédia climática no sul do Brasil, surge um problema traiçoeiro: a falta de empatia envolta em supostas defesas de pautas raciais

Por Lívia Teodoro*

A verdade é que estamos lidando com indivíduos mal-intencionados que, longe de serem ativistas legítimos, exploram essas pautas sociais para disseminar o ódio, principalmente através das redes sociais.

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Essas pessoas, em sua maioria não são engajadas em movimentos sociais na vida fora das telas, se reúnem em torno de discursos desonestos, aproveitando-se da comoção nacional para promover um discurso de ódio e xenofobia disfarçado  de ativismo. O que deveria ser um momento de solidariedade nacional diante das tragédias climáticas, indivíduos capitalizam engajamento  em cima do sofrimento alheio, utilizando expressões como “não presto minha solidariedade porque em tal estado só tem racista”. Este discurso, na verdade, desnuda falta de empatia, desconhecimento das pautas raciais. Ao fazer isso, revitimizam aqueles que já estão sofrendo com as tragédias climáticas.

Enchentes que afetam o Rio Grande do Sul /Foto: Defesa Civil RS

A TRAGÉDIA CLIMÁTICA NÃO É UM “CASTIGO” PARA RACISTAS

Recentemente, o Rio Grande do Sul tem enfrentado severas consequências das chuvas, com centenas de mortos, desaparecidos e milhões de afetados. Segundo relatórios oficiais, até sexta (10), foram registradas 113 mortes, além de 146 pessoas desaparecidas, impactando diretamente cerca de 1,9 milhão de pessoas em maior ou menor grau. A situação se agrava a cada dia, com 69.617 pessoas buscando abrigo, 337.116 desalojados e 756 feridos socorridos. Diante desse cenário devastador, alguns indivíduos optaram por expressar sua falta de solidariedade através das redes sociais, utilizando um suposto antirracismo como justificativa. No entanto, dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelam que o racismo é um problema estrutural em todo o país, com um aumento alarmante de 62% nos casos registrados em 2022 em comparação ao ano anterior. 

Essa deturpação da causa antirracista não apenas enfraquece sua legitimidade, mas também alimenta um ciclo de ódio e intolerância, prejudicando ainda mais as comunidades marginalizadas que já enfrentam discriminação sistemática, inclusive pessoas negras e indígenas que vivem no sul do país e estão em meio as vítimas das enchentes recentes. Ao desviar o foco da verdadeira luta por justiça e igualdade, esses discursos não apenas atrasam o progresso social, mas também exacerbam as divisões e tensionam ainda mais a sociedade.

O RACISMO NÃO DÁ TRÉGUA

Esses discursos xenofóbicos disfarçados sob a pretensa militância são formas insidiosas de manipular e distorcer pautas legítimas, como a luta antirracista, em prol de agendas divisivas e odiosas. Utilizar a pauta racial como ferramenta para promover discursos xenofóbicos não apenas perpetua estereótipos e preconceitos, como também mina os esforços daqueles que lutam por um país mais igualitário.

É fundamental reconhecer que a verdadeira militância antirracista busca a inclusão, o respeito e a justiça para todas as pessoas, independentemente de sua origem ou etnia. Desviar essa causa nobre para servir a agendas xenofóbicas é um desserviço não apenas para as vítimas das tragédias climáticas, mas para toda a sociedade.

Em suma, a instrumentalização da luta antirracista para promover discursos xenofóbicos e racistas durante crises climáticas revela uma distorção perniciosa das pautas sociais legítimas. Esse desvio não apenas prejudica a credibilidade e eficácia dos movimentos antirracistas, mas também alimenta divisões e antagonismos na sociedade. Nesse sentido, é crucial rejeitar veementemente tais discursos de ódio e xenofobia, reforçando a necessidade de solidariedade e apoio mútuo em momentos de crise. Somente através do compromisso com a justiça e da promoção da inclusão poderemos enfrentar os desafios sociais de maneira eficaz e construir uma sociedade mais equitativa.

*Lívia Teodoro é mineira de 33 anos, é comunicadora, influenciadora e historiadora graduada pela UFMG. Faz parte do time de influenciadores da primeira edição da Teia de Criadores. É criadora e apresentadora do podcast Boteco da Patroa. Com formação em História da África e afro-brasileira, também é pós-graduanda em jornalismo digital. Discute pautas de gênero, raça e sexualidade de maneira didática e objetiva para ser acessível a todas as pessoas

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