Dia dos Povos Indígenas: dia para celebrar e refletir 

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No dia 19 de abril comemora-se no Brasil o “Dia dos Povos Indígenas”. Até o ano passado esta data era tradicionalmente conhecida como o “Dia do Índio”, mas a  partir da Lei 14.402/2022 seu nome oficial foi modificado com o objetivo de dar relevância à diversidade das distintas e ricas culturas existentes entre os Povos Originários. 

Não restam dúvidas de que a relevância do Dia dos Povos Indígenas se mostra mais premente do que nunca face à profunda tragédia experimentada pelo povo  Yanomami em solo brasileiro. A situação do povo Yanomami ganhou a atenção da mídia mainstream, nos últimos meses, quando as imagens absolutamente chocantes da triste realidade vivida por essas pessoas passaram a ser  maciçamente veiculadas em todos os telejornais do país. 

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Dia dos Povos Indígenas é uma data que precisa ser forte e  efusivamente celebrada. Foto: Pixabay

Os dados1 que ilustram o que é considerado por muitos a maior crise humanitária ocorrida no Brasil no presente século expressa por si só a dimensão dessa tragédia. Entre 2019 e 2022, o aumento das mortes por desnutrição na população  Yanonami foi de 331%. Apenas em 2022, mais de 70% desta população contraiu malária. 

É evidente que esses acontecimentos tornam imperativo uma reflexão profunda  e honesta acerca das causas e consequências das dificuldades que assolam  continuamente a população indígena. Dentre elas, é possível destacar: racismo,  violência física e simbólica, violação de direitos fundamentais, carência de acesso  à saúde e insegurança alimentar. 

Vale ressaltar que a população indígena está longe de ser insignificante no âmbito  da demografia nacional. Na realidade, há uma nítida tendência de crescimento  do número de pessoas autodeclaradas indígenas, uma vez que desde o Censo  Demográfico de 1991 a participação percentual dos indígenas na demografia  brasileira tem crescido substancialmente.  

No Censo de 2010 o número de pessoas autodeclaradas indígenas já era de  896.717, divididas entre 305 etnias com 274 idiomas. Por seu turno, os dados  preliminares já veiculados no âmbito do Censo de 2022 indica uma elevação  expressiva do número de pessoas autodeclaradas indígenas, de modo que esse  número atualmente pode ultrapassar 1,6 milhão de pessoas.  

O fato é que uma das principais justificativas presente no discurso de quem  inadvertidamente intenta justificar, implícita ou explicitamente, a dolorosa e  ultrajante realidade vivida pelos povos indígenas no país consiste em  argumentar que a demarcação de terras indígenas implica fortes custos em  termos de crescimento econômico e progresso técnico.  

Não raramente, os mesmos defensores desse argumento ensaiam narrativas em  que a população indígena aparece como “entrave” para o crescimento econômico nacional. Não restam dúvidas de que tal justificativa é peremptoriamente  desmentida pelos fatos.  

É uma total falácia que as mazelas experimentadas pelos indígenas advêm, diretamente, da falta de atividades econômicas em seus territórios. Na realidade,  o que se observa é que os problemas sociais que assolam esse segmento  populacional advêm de fatores como: 

• Aumento recente do nível de desmatamento, sendo de 59,5% somente na  Floresta Amazônica nos últimos quatro anos; 

• Desarticulação dos órgãos ambientais fiscalizadores; 

• Relaxamento das leis de proteção ambiental; 

• Avanço avassalador das atividades extrativistas de madeiras e minérios,  em especial, perpetradas por empresas clandestinas e grileiros ilegais; 

Além disso, cumpre ressaltar que também é falso a assertiva de que exista uma  dicotomia inescapável entre desenvolvimento econômico e a implementação de  medidas, que visem a preservação do meio ambiente e do modo de vida dos  Povos Originários com seu rico patrimônio étnico e cultural. 

O falso antagonismo supracitado se mostra completamente dissonante da  necessidade, apresentada pela economia brasileira, de estabelecer uma estratégia  de desenvolvimento econômico pautado numa inserção mais qualificada no  âmbito das chamadas cadeias globais de valor. Evidentemente, tal integração  perpassa, sim, por avanços tecnológicos, mas também depende de um uso  estratégico, racional e sustentável das riquezas naturais e biogenéticas existentes  no território brasileiro. 

Mais precisamente, um crescimento econômico mais sustentável no tempo  exigirá um esforço governamental substantivo, no sentido de introduzir mais  qualificadamente a economia brasileira nas cadeias globais de produção. Disso 

resulta a necessidade de se implementar uma estratégia que vise uma  reindustrialização nacional combinada com o uso racional e sustentável das  riquezas naturais nos processos produtivos de agregação de valor. 

Portanto, o Dia dos Povos Indígenas é uma data que precisa ser forte e  efusivamente celebrada, uma vez que comemora o seu incomensurável  patrimônio cultural e simbólico, e do qual, vale lembrar, toda a sociedade  brasileira é herdeira.  

Contudo, é premente também utilizá-la para trazer à memória o tamanho da  dívida histórica que o Brasil possui com esse segmento da sua população. Disso  resulta a urgência de uma reflexão mais profunda sobre o modelo econômico e  social de desenvolvimento adotados no país, uma vez que o modelo escolhido  deve priorizar a preservação do seu patrimônio cultural e ser ambientalmente  sustentável.

Leia também: Matrículas de indígenas em universidades subiram 374% de 2011 a 2021

1 Dados obtidos em reportagem divulgada pela BBC News Brasil em fevereiro de 2023.

Por Instituto Identidades do Brasil (ID_BR)

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