Jornalista infiltrado na polícia francesa escreve livro relatando racismo e violência na corporação

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“Vítimas ou algozes? Heróis ou bodes expiatórios? ” Essas são as perguntas que o jornalista Valentin Gendrot se faz durante os dois anos que passou infiltrando na polícia francesa. Em seu livro “Flic (Tradução: polícia), um jornalista infiltrado na polícia”, publicado na última quinta-feira (03), o repórter conta sua experiência: violência, impunidade, falta de recursos e pessoal, suicídio de agentes e racismo amplamente normalizado. Em pouco mais de 300 páginas, descobrimos a realidade do dia a dia da polícia francesa.

O jornalista relata que a violência é “tão frequente que se torna banal” e ilustra essa realidade com um episódio em que foi forçado a forjar falsas provas contra um adolescente agredido pelos polícias. “Eles não veem um jovem, mas um delinquente. Uma vez estabelecida essa desumanização, tudo se torna justificável, como agredir um adolescente ou um migrante”, relata no livro.

“O que me espanta é a forma como se sentem intocáveis, como se não existissem superiores, nenhuma vigilância hierárquica, como se cada agente possa escolher — de acordo com a sua vontade e com o que sente no momento — ser violento ou não”, conta.

Valentin, que passou por três meses de treino e logo depois recebeu uma arma e um uniforme, diz ter sido surpreendido com a falta de preparação por parte dos polícias franceses, assim como com os salários muito baixos dos recrutas, o que leva a casos de depressão e suicídio, também potenciados por um constante clima de stress e hostilidade nas ruas.

“Foi chocante para mim ouvir agentes, representantes do Estado, que chamam bastardos a pessoas negras, árabes ou migrantes. E todos o faziam. Havia comentários racistas, homofóbicos e machistas todos os dias. Vinham de alguns colegas e eram tolerados ou ignorados pelos restantes”, relata o jornalista que se infiltrou na polícia em setembro de 2017.

Após a publicação do livro, a sede da polícia de Paris denunciou a Inspetoria Geral da Polícia Nacional (IGPN) os atos graves. “A investigação também deve determinar as razões pelas quais os fatos alegados não foram imediatamente relatados ao promotor”, informou em comunicado.

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