“Devemos contribuir para a auto aceitação das nossas crianças negras”, diz psicóloga

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Existem cerca de 57 milhões de crianças e adolescentes no Brasil, destes, 31 milhões são meninas e meninos negros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cuidar da a autoestima e da aceitação destas crianças é cuidar dos nossos futuros adultos e formar uma sociedade com mais aceitação e respeito. Muitas vezes a construção da autoestima passa pelos cabelos.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva aponta que a maioria da população negra no Brasil já foi vítima de alguma ofensa racial: 72% dos negros brasileiros já ouviram “seu cabelo parece bombril”.  De acordo com a Psicóloga e Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Ellen Moraes Senra, esse tipo de ofensa, dito à uma criança, afeta diretamente sua autoestima: “Naturalmente, quando não validamos alguma característica da criança e, pelo contrário, negamos essa característica afirmando que não é bonito ou aceitável, a criança tende a crescer com o estigma da não aceitação, contribuindo para que a construção da sua autoestima seja deficiente”, explica.

Psicóloga Ellen Moraes Senra

A psicóloga reforça a importância de enaltecer a beleza de nossas crianças: “Devemos contribuir para a aceitação cultural, mas principalmente para a auto aceitação. Lembrando, é claro, que nossas crianças em especial merecem atenção diferenciada, visto a desvalorização de seus traços característicos da raça em virtude do padrão vigente de beleza”.

Apoio familiar

A autoconfiança das crianças negras pode, e deve, ser tratada nas escolas e também em casa, de diversas formas. A cultura, através de filmes, livros e peças de teatro, é uma delas. No ano passado a NetFlix lançou o filme “Felicidade Por Um Fio” (Nappily Ever After), que trata do tema ‘transição capilar’ e pode ser assistido por toda a família. É uma comédia romântica que conta a história de Violet Jones, uma mulher negra, publicitária e que, aparentemente, tem a vida perfeita, o emprego perfeito, as roupas perfeitas e… o cabelo liso perfeito. Violet passa pela transição e entende que a felicidade vai muito além de seu cabelo.

“O filme é lindo e traz várias reflexões importantes, mas a principal delas é que não vale a pena se sacrificar tanto para ser aceita ao ponto de viver quase que exclusivamente da aparência, que o seu padrão é individual e o principal é que a aceitação comece com você. Não vale tudo para agradar o outro, mas vale tudo para se agradar, se sentir bem consigo mesma, sem que para isso precise negar sua essência ou se privar das coisas que gosta quase que integralmente”, explica a psicóloga Ellen Moraes Senra.

Autoestima é um processo, quanto mais cedo mostrarmos sua importância e inserirmos na educação das nossas crianças o conceito de auto aceitação estaremos contribuindo ativamente para uma geração mais empoderada”

Assim como vemos no filme a família tem um papel fundamental no processo de construção das crianças e de transição capilar: “O filme mostra bem isso, mas veja, aquela mãe estava fazendo nada mais do que reproduzir algo que lhe ensinaram, o que mostra que apesar de seu discurso ser aberto e claro, as razões para o mesmo são justificáveis se analisarmos o contexto e é contra isso que precisamos lutar,  para reestruturar o que aprendemos a ver como bonito, afinal nossa história nos foi contada pelos olhos de quem nos via de cima e não quem nos olhava como iguais”, diz Ellen.

O auto aceitação das crianças pode começar através dos brinquedos, como, por exemplo, as bonecas negras: “Quanto te falam que algo em você é feio e você observa que tudo e todos ao redor concordam, acaba acreditando que de fato é, por essa razão, se deparar com bonecas que contradizem essas opiniões através da identificação de traços acaba sendo primordial para a compreensão que o bonito depende do referencial”, explica a psicóloga que conclui: “Autoestima é um processo, quanto mais cedo mostrarmos sua importância e inserirmos na educação das nossas crianças o conceito de auto aceitação estaremos contribuindo ativamente para uma geração mais empoderada”.

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