“Cultura é o espaço de troca de vivências”, afirma Kirce Lima sobre as produções periféricas 

WhatsApp-Image-2024-04-03-at-8.24.42-AM-1.jpeg

As produções culturais periféricas passam por uma metamorfose, principalmente depois da crise sanitária da Covid-19, com estruturação de cenários, mais acessos a editais e financiamentos. Mas, ainda assim, existem certos entraves para a execução de algumas produções. 

Neste sentido, o Notícia Preta conversou com a produtora cultural, Kirce Lima, sobre como as produções periféricas podem ganhar espaços e editais para que as produções sejam abraçadas por essas oportunidades e que possam também abrir novos caminhos. 

Kirce reforça a importância da profissionalização para o sucesso do empreendimento – Foto: Ruan Paixão

Segundo ela, é preciso que os artistas e produtores pensem em primeiro lugar nos seus territórios, de onde eles vem, e pensem também naqueles produtores que não conseguem ter o mesmo acesso. 

Existe uma parcela muito grande de artistas e produtores que não são atendidos, é uma realidade e tem espaço pra muita gente inovar nesse meio. Cultura é o espaço onde trocamos vivências, experiências, práticas, culinárias, linguagens, talvez vai ser desse grande encontro realizado no seu território que surja seu empreendimento”, explica. 

Kirce, que é fundadora da eLabore.kom, que surgiu no meio da pandemia para levar soluções a esses artistas, disse que as pessoas periféricas precisam ser estratégicas, mas, muitas vezes, é preciso deixar esse respeito de lado para seguir com o sonho.

“Às vezes preciso passar por cima e pensar em outros atalhos, criar estratégias para não ser boicotada, tentando sempre pensar duas casinhas à frente. Não é fácil ser empreendedora, uma vez que você precisa pensar o seu negócio e, paralelamente, existem outras realidades que caminham juntos com o empreendimento que não podem ser esquecidas, como maternidade”, pontua.

Mãe de quatro filhas, Kirce lembra que ela precisa estar bem para cuidar bem das suas filhas e manter seu empreendimento funcionando corretamente. “São quatro meninas em formação, que precisam de atenção, manter minha saúde física e mental, que levou um tempo para eu entender isso como prioridade, minha a fé para seguir nesse mundão. Enfim, pensar nessa dinâmica de equilibrar tudo, é uma loucura, dá pane às vezes, mas, no final, acredito que começar essa ideia de negócio foi a melhor movimentação que podia ter feito naquela fase e que perpetua até hoje”, celebra.

Trabalho e produções

Kirce Lima trabalha com produtores periféricos e reforça que é de grande importância o contato com todos eles porque se torna um negócio, mas também é um espaço de acolhimento. “É literalmente o movimento do pássaro sankofa, olhando pro passado e tentando projetar um futuro melhor não só para mim, mas para os meus também”, diz. 

Ela enfatiza que a saúde física e mental precisam estar em dia – Foto: Ruan Paixão

“Eu sempre digo, que o ‘pobre’ ele sempre quer pagar, só não sabe como. Eu coloco o valor do serviço em uma realidade que seja viável para o cliente e para eLabore, sugiro algumas formas de pagamento e com isso vou fechando negócios e novos clientes”, completa. 

As produções culturais periféricas são expressões culturais originadas e desenvolvidas em áreas marginalizadas das grandes cidades ou regiões urbanas. Estas produções frequentemente surgem em contextos de desigualdade social, econômica e política, onde as comunidades enfrentam desafios cotidianos, além da falta de acesso a recursos culturais e educacionais. 

Sendo assim, “sempre explico que o projeto é um investimento pessoal dele, que também precisa se organizar e apostar nesse projeto. Do lado de cá eu mostro caminhos possíveis para realização dele e quanto custa nosso trabalho. Foi assim que fomos crescendo nesses três anos, com muita clareza e honestidade”, afirma Kirce Lima.

Ela também avalia a evolução da eLabore como empresa e todos os cenários que ela já enfrentou, principalmente nas produções de dança, que são o carro chefe da produtora. 

“Apesar do nosso trabalho ser abrangente dentro do setor cultural, os projetos de dança são os mais procurados para os serviços de elaboração, produção e gestão financeira. Acredito que, por ser um segmento menos assistido e fomentado como teatro, por exemplo, nesse sentido a procura é muito grande para estarem com a gente”, analisa.

Leia também: Elisa Lucinda apresenta as crianças como agentes transformadores da educação em novo livro

A produtora lembra também que o acolhimento é um dos diferenciais da eLabore, uma vez que existe uma gama muito grande de profissionais que exercem a mesma função que ela no mercado. “Além do serviço, sempre buscamos criar momentos bacanas com o cliente como enviar as lembrancinhas de final de ano, presentear no dia do aniversário, celebrar no último dia de espetáculo com um buffet incrível. Pode parecer bobeira, mas muitas vezes produzimos os nossos projetos ou estamos em outros e não temos acesso a isso”, explica.

“O trato é sempre o melhor possível, esse é o nosso lema. Isso também para a equipe, vejo como um time, são meus amigos, precisam se sentir bem fazendo o que fazem. Acredito que atenção para o elemento Humano, é o nosso diferencial”, finaliza.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

Deixe uma resposta

scroll to top