A situação de fome que afeta cerca de 600 mil pessoas em quase toda a região norte do distrito de Caia, em Moçambique, a mais atingida pela estiagem. O local está com campos agrícolas quase improdutivos, o que preocupa as autoridades locais, segundo informações da Agência Lusa.
Segundo Nobre dos Santos, administrador de Caia, em sua entrevista à Lusa, a crise começou no último ano. “Estamos com esta situação desde novembro do ano passado. Uma vez que o nosso distrito foi severamente afetado pelo fenômeno “El Niño”, não tivemos outra alternativa, se não assistir estas famílias”, diz ele.

Nobre também ressaltou que esta crise se vê em toda região norte do distrito de Caia há quase três anos. “Sem como produzir, para se alimentar a população, mas com a ajuda de alguns parceiros, estamos a lutar para sanar esta situação junto das comunidades, distribuindo sementes qualificadas e resistentes à seca“, acrescentou.
Segundo a nota da Agência Lusa, a população está tendo acesso a uma refeição diária à base de farelo e frutas silvestres, numa situação de insegurança alimentar com a probabilidade de prolongar-se dado que a população está a consumir as sementes de milho e feijão, distribuídas esta semana.
“A situação tende a piorar e as referidas famílias têm agora uma refeição por dia, composta basicamente por farelo, acompanhado por verduras e frutos obtidos nos rios”, detalhou.
Segundo o régulo (Líder tradicional) Chatala, no distrito de Caia, é um fenômeno nunca visto nos últimos 30 anos: “Estamos sem alimentação há mais de dois anos, aqui em Caia. Muita fome, já tivemos dois anos sem chuva, por isso é que a fome cresceu e piora a cada dia que passa, devido à invasão dos campos agrícolas pelos elefantes”.
Também, a população se recorre a frutas da época, como melancias, cana doce e um tubérculo aquático conhecido como nhica, diz a lusa. “O nhica é tirada muito longe, não é perto. Daqui até onde se encontra nhica leva três a quatro dias. Entretanto, o nhica tem uma época específica e já passou. O farelo é retirado das moagens, já não damos aos animais, agora o farelo serve para as pessoas“, frisou ainda o régulo.
Segundo a Lusa, as famílias afetadas pela crise de fome têm recebido o apoio de alimentos do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastre (INGD) e parceiros, como forma de combater a fome naquela região de Sofala. De acordo com as famílias camponesas em Caia, além do apoio em alimentos, têm estado a beneficiar de sementes resistentes à seca, mas também através do aproveitamento das águas do rio Zambeze, com a instalação de um campo para a produção de hortícolas que já beneficia cerca de 400 famílias, noticiou a agência.
Considerando que o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) está a assistir, neste momento, cerca de 200 mil das 624 mil pessoas identificadas com necessidades na região.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
Leia também: República Democrática do Congo: mais de 50 pessoas morrem vítimas de uma doença desconhecida, diz OMS