Brasil é um país machista. O Brasil é um país racista. Nossa sociedade é preconceituosa e, um dos grupos alvos da opressão estrutural, homens negros e, especialmente, mulheres negras, são os mais atingidos. A relação entre estes dois polos é, ainda, parte da questão.
O debate sobre afetividade é um dos mais fortes dentro dos movimentos negros. Temáticas como a solidão da mulher negra, a “palmitagem” e as uniões afrocentradas motivam pesquisas, postagens e encontros e desencontros dentro da militância.
Inicialmente, as conversas são centradas em relações heteronormativas e monogâmicas, mas podem ser ampliadas para outras configurações. Dados do IBGE indicam que cerca de 70% dos casais brasileiros são compostos por integrantes da mesma etnia.
Acrescente-se, ainda, que entre negros, homens unem-se a mulheres semelhantes em cerca de 40% dos casos, enquanto no recorte inverso a proporção chega a 50%. As mulheres negras são o público mais apartado de relações instituídas.
Há várias hipóteses e respostas, mas gostaria de, primeiramente, uma afirmação: padrões românticos são temas de problematização, sim. Afinal, não me venham dizer que o amor não escolhe. O coração é como a Justiça: quando convém, enxerga bastante…
Posteriormente, parece existir um vácuo entre o desejo por uma comunidade fortalecida em sua heterogeneidade e o interesse em construir este envolvimento partilhando vidas com os membros da mesma. Slogan venda, mas não sustenta.
Enquanto se cobra dos outros comportamentos “ideais”, fazemos vista grossa para os nossos pares – homens e mulheres – cujo discurso não é regra em seu próprio cotidiano. O que dá status, likes, fã-clubes e capas de revistas não necessariamente se adota.
A intenção aqui é mostrar que há existências inteiras longe dos holofotes dos influencers e estrelas pós-acadêmicas constituindo famílias negras e enfrentando consciente ou autodidaticamente o que o status quo nos diz que não vale comercial de margarina.
Enquanto isso, amor afrocentrado nos Facebooks e Instagrans da vida só vale se os cônjuges forem, para uns, Beyoncé; para outros, Michael B. Jordan. Convenhamos, é mais fácil ser só discurso quando se projeta o impossível. O real dói na carne e no espelho.