Fundo Baobá lança minidocumentário sobre saúde mental em comunidades quilombolas

unnamed-14.jpg

Ainda que imersos nas dificuldades territoriais existentes, a parceria entre profissionais de saúde, comunicação e lideranças quilombolas trouxe dias de esperança e transformações consideráveis na vida dos quilombolas dos territórios de Igarapé Preto à Baixinha, em Oeiras do Pará – PA.

Para Maria Josenira Baião Pimentel, técnica do time de futebol RBD, da Comunidade de Varginha, o esporte vem amenizando cada vez mais os problemas em relação à saúde mental, pois através dos eventos realizados é possível conseguir arrecadações para continuar mantendo o futebol ativo na comunidade como uma ferramenta de transformação social e mental.

O RBD vai completar 3 anos, e nesses três anos as mulheres da comunidade só foram e são reconhecidas por estarem à frente do futebol, o que colabora para amenizar nossas dificuldades diárias”, afirma Maria Josenira.

Essa foi uma das histórias contadas no audiovisual, produzido pela Negritar, que contempla os seis meses de diagnósticos, implementação e efetivação das diversas atividades propostas pela equipe multidisciplinar selecionada para realizar o ‘Projeto Saúde Mental Quilombola, do Baobá – Fundo para Equidade Racial’, em parceria com a Johnson & Johnson.

Com apoio da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Coordenação Estadual das Associações de Comunidades Remanescentes de Quilombo (Malungu/Estado do Pará) e Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), o minidocumentário enfatizou a produção de reflexão dos quilombolas no que diz respeito a um resgate de saúde mental, autoconhecimento, empoderamento e identidade racial presente nos afrodescendentes que habitam a região.

Documentaŕio completo

Para Mario Costa, produtor e editor da Negritar, o objetivo do audiovisual foi alcançado. A partir dos depoimentos colhidos e das realidades de consciência crítica adquirida, os quilombolas dos 14 territórios atingidos, têm enegrecido a importância do cuidado com a saúde mental e de quais instrumentos utilizar para combater isso dentro das comunidades.

A realização do projeto Saúde Mental Quilombola, consequentemente a produção e exibição do audiovisual, se dá a partir dessa extrema violência com relação à falta de saúde mental na sua integralidade, o que resulta em diversos problemas complexos vivenciados nesses territórios.

A população quilombola corresponde a 1,3 milhão de pessoas, o que equivale a 0,65% do total de habitantes do País, e habitam em aproximadamente 1.696 municípios brasileiros, ainda que não oficialmente delimitados, segundo o IBGE 2022. No estado do Pará, se concentram aproximadamente 135.033 quilombolas, porém perante ao Estado Brasileiro, seus direitos plenos em relação à Saúde, Educação, Moradia, entre outros, não são assegurados devido a uma negligência orquestrada, decorrente de processos históricos de opressão, desigualdades e resistência.

Segundo a enfermeira e doutora em saúde pública Margarete Feio Boulhosa, a exibição do minidocumentário como finalização do projeto, no final de outubro, foi muito expressiva e significante para as pessoas presentes, no que diz respeito à importância dele trazer o que tem de melhor nessas comunidades e a motivação de dias melhores na região.

Para ela, essa semente germinada pelo Baobá deve trazer a possibilidade de direitos assegurados que se transformem em plenos serviços públicos para melhoria e bem viver nessas comunidades. “Que trilhem caminhos com boas estradas, bons serviços, e que os direitos de todos os quilombolas sejam assegurados”, afirma Margarete.

As diversas dificuldades presentes fizeram com que os quilombolas se reinventassem e sobrevivessem até os dias atuais, porém ainda que em constante transformação, essas comunidades foram e são invisibilizadas por não possuírem serviços públicos adequados e o desenvolvimento de políticas públicas para acessarem integralmente os serviços básicos de saúde.

O retorno à comunidade local para exibição do minidocumentário foi mais uma possibilidade de inquietação desses quilombolas e a possibilidade de criação de estratégias de resiliência, pois dando insumos e conhecimento sobre seus direitos, eles se comprometem cada vez mais com o legado que podem oferecer quando trata-se de riqueza e novas tecnologias ancestrais para a reconstrução de um País tão plural e diverso como o Brasil.

É fundamental que essas narrativas cheguem a todos os lugares para que tenhamos cada vez mais equidade racial e territorial dessas narrativas. A Amazônia tem no seu legado não só o seu verde, mas fundamentalmente os amazonidas pretos e indígenas, que com suas histórias e narrativas potentes, tem muito a engrandecer e reparar as histórias desse cinema brasileiro”, afirma Mario Costa, produtor e editor do audiovisual.

Leia também: Fundo Baobá e Mover reabrem inscrições para edital “Carreiras em Movimento”

Deixe uma resposta

scroll to top