Um levantamento realizado pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde e obtido pela GloboNews, via Lei de Acesso à Informação revelou que, apenas 1 em cada 4 crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), realiza três refeições por dia. De acordo com o estudo, entre janeiro e outubro de 2021, 25% das crianças atendidas pelo SUS, com idades entre 2 e 9 anos, realizavam pelo menos as três principais refeições diárias.
Segundo Naércio Menezes Filho, membro do Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), as crianças mais afetadas são as de famílias mais pobres. “Geralmente, tendem a ser negras ou pardas e a morar nas regiões Norte e Nordeste”, explica, em entrevista à Globonews.
Ainda de acordo com o levantamento, o índice começou a mudar em 2015, quando 76% das crianças atendidas pela Atenção Básica realizavam pelo menos três refeições por dia. No ano seguinte, 2016, o número caiu para 42%. Em 2019, já eram apenas 28% das crianças que conseguiam fazer as três refeições diariamente.
Leia também: Brasil tem quase 50 milhões de pessoas em insegurança alimentar moderada ou grave
Menezes Filho ressalta ainda que a falta de políticas públicas, principalmente no final da década de 1980, gerou uma preocupação com a alimentação das crianças. Porém, a partir de 2010, esse cenário mudou consideravelmente, com a inclusão de políticas públicas. “O índice de crianças que consomem ao menos três refeições no dia vem caindo porque tivemos uma recessão muito grande a partir de 2015. Ela segue hoje em dia e foi agravada pela pandemia. Ou seja, a pandemia se sobrepôs a uma situação econômica que já vinha acontecendo”, afirma o economista.
Fome e desenvolvimento
A presidente do departamento de nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Virgínia Weffort, ressalta, em entrevista à Globonews, que essa falta de alimentação afeta diretamente o desenvolvimento das crianças. “Até os 5 anos existe a programação metabólica, que é programar o seu organismo para evitar doenças. E, dos 5 aos 9 anos de idade, continua sendo importante para o crescimento da criança”, explica.
Além disso, o levantamento do SISVAN também mostrou que 85% das crianças atendidas pelo SUS ingerem alimentos ultraprocessados, 77% consomem frutas e 66%, verduras.