Alimentação escolar ajuda garantir segurança alimentar para a população negra

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A população negra sofre com a insegurança alimentar, pois a fome estava presente em 10,7% das casas de pessoas negras, número maior que o encontrado nas casas de pessoas brancas (7,5%), em 2020, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN). 

Essa população também está mais exposta a produtos industrializados e ultraprocessados, pois eles chegam com mais facilidade, por serem mais baratos e de fácil acesso, em espaços de periferia, por exemplo, onde a população negra é maioria, enquanto estabelecimentos com oferta e variedade de alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras, são por vezes mais escassos ou essa é uma alimentação mais cara. A pesquisa Vigitel 2018 – População Negra, realizada pelo Ministério da Saúde, concluiu que o consumo regular de alimentos saudáveis in natura é 33% menor na população negra quando comparado à população branca.

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Foto: Reprodução/ESPM

A ausência de uma alimentação adequada pode desencadear problemas de saúde como desnutrição, cegueira, fragilidade óssea, anemia e, para as crianças, pode trazer graves consequências, já que elas estão em fase de formação e desenvolvimento. Perda de memória, dificuldade de aprendizado, falta de atenção, má-formação óssea, déficit no crescimento, e até a taxa de mortalidade infantil tende a crescer com o aumento da fome no país. O consumo de ultraprocessados também contribui para elevar os riscos à saúde: está associado a diabetes, hipertensão, maiores níveis de colesterol, depressão, e muitos tipos de câncer.

Diante desse contexto, o ambiente escolar se reforça como um dos elementos centrais na formação de crianças e adolescentes, pois é lá onde eles e elas passam pelo menos um terço do dia, durante  muitos anos. A escola se torna peça chave na construção de hábitos e formação de preferências que tendem a persistir até a idade adulta – isso inclui os hábitos alimentares que podem ou não contribuir para uma boa saúde. E para muitas crianças e adolescentes, a alimentação escolar é a principal fonte de nutrição.

“A gente sabe que as populações mais vulneráveis socialmente são mais afetadas. Estudantes de famílias mais vulneráveis têm mais dificuldade de ter acesso a uma alimentação adequada em casa, e muitas vezes é na escola que essa criança vai fazer a principal refeição do dia, a escola precisa ser uma forma de assegurar o seu direito a uma alimentação adequada e saudável”, afirma Giorgia Russo, nutricionista e consultora técnica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que, em parceria com o Unicef, está mobilizando e dialogando com gestores e atores estratégicos locais de algumas regiões do Brasil para a promoção da alimentação saudável no ambiente escolar.

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Para o Idec, é dever dos gestores municipais e estaduais incidir para a regulamentação da comercialização de alimentos no ambiente escolar, restringindo e protegendo crianças e adolescentes da exposição aos ultraprocessados. Essa regulamentação deve estar aliada ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que vai garantir o acesso a uma alimentação saudável no ambiente escolar. “Se a escola não oferece um alimento adequado e saudável, a gente está agravando a situação de insegurança alimentar dessa população em vulnerabilidade. E é por isso que a alimentação escolar no Brasil é uma das maiores políticas de garantia de segurança alimentar e nutricional”, afirma Giorgia Russo.

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