Alagoas possui 3 psicólogos na rede estadual de ensino; especialista fala dos riscos

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A falta de psicólogos pode acarretar em adolescentes mais agressivos, alerta especialista

Na última semana, um adolescente de 13 anos assassinou uma professora de 71 anos, em sala de aula, na cidade de São Paulo, após a docente separar uma briga entre ele e outro aluno, quando o adolescente o chamou de “macaco”. Além disso, ainda durante a semana, outros casos de ameaças de massacres de estudantes também foram registrados no Distrito Federal, por exemplo.

Essas situações colocam em alerta as autoridades de educação em todo o Brasil, assim como profissionais ligados à área educacional, como psicólogos e pedagogos. Em Alagoas, no entanto, existem apenas três psicólogos para atender todos os alunos da rede estadual de ensino, que somam mais de 160 mil estudantes.

As crianças e adolescentes são mais vulneráveis às questões psicológicas – Foto: Camila Souza, Psicóloga Clinica e do Esporte, ressalta a importância desses profissionais para a saúde mental das crianças e adolescentes, principalmente durante o período escolar, uma vez que a escola é um espaço de formação de adultos.

“Quando não se tem um conhecimento mínimo sobre regulação emocional, esse adolescente acaba se tornando um adulto reativo, que não sabe lidar com os problemas, não sabe resolver os problemas. E aprendemos essas habilidades sociais, de resolução de problemas, na infância. Então, quando esses adolescentes não têm um acompanhamento de um profissional, a sociedade forma adultos que não conseguem lidar com os problemas porque vão estar ansiosos”, afirma.

Na última sexta-feira (31), duas alunas chegaram a rolar no chão durante uma briga, que foi incentivada por outros colegas de turma. A motivação seria que uma delas havia chamado a outra de “macaca”. Souza enfatiza também que é na educação básica que os profissionais ensinam os jovens a lidarem com as emoções básicas.

“Quando a gente tem um profissional da psicologia na educação básica, nós ensinamos as crianças como lidar com as mais diversas emoções, como tristeza, alegria, ansiedade. Ensinando crianças essas regulações emocionais, teremos adultos menos ansiosos. Com adultos menos ansiosos, teremos pessoas com a capacidade de resolução de problemas maior”, analisa.

Quando se trata de crianças e adolescentes negros, a situação se agrava ainda um pouco mais. Segundo ela, os jovens atualmente têm uma consciência racial mais aflorada que outras gerações e a escola não tem conseguido acompanhar essa evolução dos jovens negros.

“Os estereótipos sobre os adolescentes crescem muito mais. Alegam que são raivosos, por exemplo. E se o jovem não tem uma capacidade analítica, de interpretar que aquela situação é racista e que ele tem apoio, acaba ficando tudo muito mais pesado para ele e é preciso levar a escola a entender que eles estão racializados e as instituições precisam acompanhar esse ritmo deles”, afirma.

A psicóloga lembra que quando se trata de adolescentes, a situação se torna ainda mais delicada, uma vez que eles estão em uma fase de transição, entre a infância e a vida adulta e todas as suas especificidades.

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“Eles já têm um repertório de emoções vasto e mais complexo, porque dali vão surgir as emoções secundárias como orgulho, vaidade, um companheirismo maior. Ele precisa se sentir pertencente àquele lugar e se já passou por situações ansiosas antes, o adolescente vai potencializar essas emoções. Vai sentir muito mais a exclusão nesse momento do que na infância”, alerta.

“Enquanto adolescentes, eles não conseguem enxergar, eles são muito imediatistas, querem tudo na hora. Sem contar que os adolescentes não conseguem distinguir quando são adolescentes e quando são adultos, já com algumas obrigações”, acrescenta.

Camila Souza alerta para as dificuldades que crianças e adolescentes negros têm durante a fase escolar – Foto: Arquivo pessoal

Por fim, Camila Souza lembra que a formação de crianças e adolescentes é um projeto de futuro para um país e que depende diretamente dos profissionais de educação, aliados aos da psicologia e aos pais.

“Uma sociedade que não cuida de crianças e adolescentes para terem uma saúde emocional boa hoje, no futuro, teremos adultos que não serão tão funcionais e isso impacta no desenvolvimento da sociedade como um todo”, reflete.

“Não teremos pessoas emocionalmente equilibradas para gerir políticas públicas, e, enfim, caminhar com o país”, finaliza.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação de Alagoas disse que no dia 23 de maio de 2022, publicou portaria instituindo o Núcleo Estratégico de Acompanhamento Psicoassistencial (NeAPSA), responsável por implantar, gerenciar e fornecer subsídios para o planejamento de estratégias que possibilitem minimizar os impactos psicoassistenciais e suas consequências nos processos de ensino e aprendizagem.

Ainda em nota, a Seduc disse também que, atualmente, a pasta dispõe de quatro assistentes sociais e três psicólogos. Todavia, enquanto o processo seletivo – para contratação de psicólogos e assistentes sociais – não é concretizado, a Seduc segue a ofertar a devida assistência a servidores e estudantes de toda a rede estadual de ensino, por meio de parceria com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), que vem disponibilizando profissionais para as mais diversas ações, inclusive, e principalmente, de prevenção.

Finalizando, a Secretaria afirma também que “já estuda a possibilidade de firmar parceria com os Municípios, a fim de fortalecer essa assistência, sobretudo, no interior do Estado”.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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