Na última quarta-feira (15), a Região Central do Rio de Janeiro foi tomada por alunos e professores. Com o lema “hoje a aula é na rua”, mais de 150 mil pessoas se reuniram e fecharam uma das principais artérias da cidade, a Avenida Presidente Vargas.
Diante da Igreja da Candelária, a população entoava rimas direcionadas à política de cortes de Jair Bolsonaro. O presidente, entre ofensas a jornalistas e reverência aos Estados Unidos, xingou os estudantes brasileiros de “idiotas úteis”.
Em resposta ao contingenciamento de verbas para universidades, diretórios estudantis organizaram frentes de resistência em mais de 200 cidades e, contrário às repressões do então governo, exaltaram a diversidade do país, onde vivências múltiplas atravessaram a mesma avenida e protagonizaram a grande mobilização em prol do ensino público, gratuito e de qualidade.
Se antes manifestações eram protagonizadas por pessoas brancas, a história tomou outro rumo. Estudantes da rede Estadual, universitários, professores e pais negros ocuparam a linha de frente da manifestação que se manteve pacífica durante a caminhada de um quilômetro, que iniciou na Igreja da Candelária e findou na Central do Brasil. Além da preponderância negra na manifestação, outros recortes sociais ocuparam as primeiras cadeiras na grande aula: estudantes da Baixada Fluminense, LGBT’s e cadeirantes se uniram à causa, no coração do Rio de Janeiro.
Alunos e professores da UFRRJ e de Institutos Federais aproveitaram o momento para relembrar que a Baixada Fluminense é potente e, também, produtora de conhecimento.
O território, conhecido pelos inúmeros casos de corrupção política e execução de jovens negros, avançou significativamente no ingresso da população em universidades, além dos três alunos, moradores de Caxias, que foram chamados a Harvard.
O término, marcado por trocas de afeto e celebração, perdeu espaço para a ação violenta da Polícia Militar, que utilizou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a população, após a queima de um ônibus.
Segundo relatos de manifestantes que preferem não se identificar, a PM jogou bomba de gás lacrimogêneo na Estação Central do Brasil, espaço onde grande parte do grupo procurou refúgio. Durante o caos, uma mulher pediu para que a ação fosse suspendida, pois ela sofria de bronquite, mas não houve clemência.
Apesar dos inúmeros relatos de violência contra a população, manifestantes voltaram às redes sociais reafirmando que no dia 30 deste mês haverá outro ato, também na Candelária. Utilizando a hashtag #Dia30VaiSerMaior, que ocupou os trending topics no Twitter, a população já mandou a letra para Bolsonaro:
“Sem arrego
Você tira meu direito
Eu vou tirar o teu sossego”