Plataforma afirma que fiscaliza e recebe denúncias para exclusão dos vídeos do Tiktok
Transmissões ao vivo e vídeos diversos são feitos por perfis na plataforma do TikTok mostrando o dia a dia da região chamada “Cracolândia”, no Centro de São Paulo, e lucram com essa exposição. Além disso, enquanto mostram imagens das pessoas em situação de vulnerabilidade, também são divulgadas Fake News, como a existência de um auxílio do governo chamado “Bolsa Crack de R$700 e pouco”, que na realidade não existe.
Em um dos perfis, que já foi banido da rede social, o administrador disse durante uma live que jogaria moedas quando atingisse 10 mil seguidores. Esse perfil fazia a transmissão pela janela de um prédio localizado numa das ruas da região, mas outros fazem as filmagens em cima de uma moto, transitando entre as pessoas, ou mostrando as ações dos agentes públicos no local.
Com a recente possibilidade de remuneração pela plataforma, as transmissões ao vivo possuem um recurso de ‘presentes virtuais’ que podem ser enviados pelos espectadores, e trocados por dinheiro pelos donos dos perfis. Já as postagens que continuam salvas nos perfis aparecem com a divulgação de imagens fortes e frases como: “Não é um filme de zumbi, é a Cracolândia no Centro de São Paulo”.
Os vídeos atingem altos números de visualização e curtidas. Esse, por exemplo, tem um pouco mais de 225 mil curtidas, outros ultrapassam mais 260 mil. Em um comentário na internet, um perfil conta sobre o momento em que entrou na live do perfil derrubado pela plataforma de vídeos.
“Eu entrei no TikTok a noite bem na hora da live dela, peguei um parte dela rindo dos usuários sob efeito de K9, e depois comemorando o tanto de views q ela tava tendo, saí com a sensação de ter visto um episódio muito triste de Black Mirror”, escreveu.
Em entrevista ao G1 Priscila Akemi Beltrame, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo afirmou que a prática se configura uma grave violação dos direitos humanos. Ela também lamentou a prática, que incentiva o ódio contra as pessoas em situação de vulnerabilidade.
“Esses vídeos banalizam a falta de humanidade e o caráter de fragilidade”, afirma a advogada, que continua. “O que a gente espera é que sejam tratados com dignidade pelo poder público e pela sociedade”, explicou.
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Em nota, o TikTok disse que leva a sério a responsabilidade de proteger a integridade da plataforma e da comunidade. “Temos o compromisso de combater comportamentos de exploração humana. Estamos comprometidos em defender a dignidade humana individual e garantir que nossa plataforma não seja usada para que se aproveitem de pessoas vulneráveis. Atuamos imediatamente e de forma rigorosa para remover contas que violam nossas Diretrizes da Comunidade assim que identificadas”, diz a nota da empresa.
Porém, até o fechamento desta matéria o vídeo citado por nossa reportagem não havia sido retirado do ar. O NP questionou a exclusão do vídeo da plataforma, mas ainda não havia recebido um retorno da empresa.