O homem que aparece em um vídeo, sendo torturado por bolsonaristas, em novembro deste ano, é Rafael dos Santos Cabral da Silva, 41 anos, e afirma que foi obrigado a mudar de Santa Catarina após perseguições políticas, depois de criticar os atos antidemocráticos em Itapema (SC).
Rafael conta que começou a sentir medo de andar nas ruas uma vez que dois dos envolvidos na tortura foram identificados, viraram réus em ações judiciais, mas permanecem soltos. Ele foi agredido, forçado a repetir frases e ficou sobre o controle do grupo por cerca de cinco horas.
“Infelizmente, estou sem trabalhar, sem poder estar no local que amo, por causa da perseguição desse pessoal bolsonarista. […] Não estou conseguindo dormir à noite. Quando alguém se aproxima de mim com a camisa do Brasil, eu fico aflito porque não sei qual é a intenção daquela pessoa comigo”, desabafa.
Atos golpistas
Em 20 de novembro, Rafael foi abordado por um grupo de bolsonaristas e obrigado a participar da manifestação sob ameaça de agressão. De acordo com a vítima, ele foi levado para um acampamento que tinha mais de 50 pessoas, inclusive crianças.
“Fiquei o tempo todo, quando cheguei no acampamento, de cabeça baixa, porque até então eles estavam me chamando de vagabundo, de lixo, que eu era comunista, um retirante. […] Naquele momento que eles botaram o boné na minha cabeça, fiquei de cabeça baixa. Quando aquilo estava amenizando, levantei a cabeça e vi crianças [no acampamento]”, completa.
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Ele foi obrigado a participar dos atos, com uma bandeira do Brasil amarrada ao corpo. Toda a ação foi gravada em vídeo e depois compartilhada nas redes sociais. Em determinado momento, sob ameaças, Rafael fala repetidas vezes que estava se retratando. “Estou aqui me retratando, tomando café com povo do Bolsonaro, com brasileiros”.
Identificados, mas não punidos
Gabriel Alexandre Garcia e Carlos Ramon Faila foram identificados como dois dos autores das torturas, mas a Justiça de Santa Catarina negou a prisão de ambos. Até o momento, foram determinadas medidas cautelares contra os acusados. Além disso, não podem tentar qualquer contato com a vítima, segundo decisão do juiz Rafael Bruning, de quarta-feira (7).
A defesa de ambos, através do advogado Rafael Cardoso Costa, informou à reportagem que não irá se manifestar por enquanto.
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