Edson Araujo é motorista de aplicativo e ficou conhecido nas redes sociais como “macumber”. Isso porque ele dá preferência aos atendimentos para pessoas que são de religiões de matrizes africanas. Ele lembra que, atualmente, 70% das suas corridas são desse público e optou por isso depois de ter passado por situações de preconceito.
“Assim que eu comecei a trabalhar em aplicativo, eu já senti o desejo de fechar este tipo de serviço. Porque eu mesmo já sofri formas de discriminação quando eu ia para algum lugar trajado com a roupa do Candomblé. Então pensei em criar um tipo de serviço onde as pessoas de religiões de matriz africana pudessem se sentir confortáveis e sem medo”, afirma o também praticante do candomblé, em entrevista ao G1.
Em seu anúncio, Edson diz que o espaço é para atendimento às pessoas que vão para os rituais ou festas das religiões e não têm como retornar para casa. “Vai para saída de santo e não tem como voltar? Macumber é a solução”, diz o anúncio. “Como eu mesmo já sofri discriminação, o intuito é minimizar esse dano. A gente faz o possível”, conta.
“Eu tive a ideia do serviço e postei em grupos de Facebook. Aí, uma participante de um grupo gostou e compartilhou em um grupo privado. Ela entrou em contato comigo, disse que adorou e que ela e as amigas me apelidaram de ‘Macumber’. Eu adorei e perguntei se podia utilizar e ela deixou“, explica.
Ele explica também que, se existe um ritual a ser seguido, como deixar oferendas, ele espera a pessoa realizar todo o ritual para ter certeza que ela voltará em segurança. “Se tem que deixar algo na rua, eu vou e espero. Se tem que ir a uma cachoeira, eu vou e trago de volta”, diz.
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Outro detalhe relatado por Edson é sobre valores. Ele tenta cobrar os valores mais próximos dos aplicativos de transporte, mas inclui o deslocamento no valor. “A diferença para o aplicativo é essa: o motorista está ao redor da casa da pessoa. Eu calculo o meu custo de combustível, exorbitante do jeito que está, e de acordo com a pequena porcentagem do lucro, que é baixa”, afirma.
“Eu procuro ter todo o cuidado, por mais que demore um pouco mais a corrida. Para que a pessoa e o que ela leve sigam em segurança. Eu tenho recebido um retorno bem positivo”, finaliza.
No Rio de Janeiro, 91% das denúncias de racismo religioso é contra fiéis de religiões de matrizes africanas, segundo um levantamento da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Estado.
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