Terreiro de terra batida, lago com peixes, tanque de areia e coqueiro que dá fruto o ano inteiro, essa é só a entrada da Jangada Escola, que possui uma pedagogia única de educação para crianças. A escola também inclui cláusulas antirracistas e de letramento racial em seu contrato com os pais dos alunos, visando comprometimento e responsabilidade, Visando comprometimento e responsabilidade das famílias junto ao processo educacional oferecido pela escola que depende da parceria dos pais para ser efetivo.
Fundada por Gabi e Miguel, a escola conta com um viés antirracista e 70% do corpo docente é formado por educadoras e educadores negros. A Constituição Federal, Regras de Beijing e outros dispositivos legais embasam e reforçam o direito das crianças a receber uma educação com compromisso antirracista e eles são afirmados logo na entrada das famílias à Jangada Escola, com o envolvimento de toda a comunidade escolar com a execução do projeto político-pedagógico.

“Assim é o Acordo de Embarque na Jangada Escola, forma como chamamos o Contrato de Prestação de Serviços Educacionais. Um movimento de convite à responsabilidade de todos na garantia da plena execução das medidas institucionais e pedagógicas necessárias à construção cotidiana de um movimento profundo mobilizado pelo Programa de Letramento Racial da escola”, explica Miguel Mendes, um dos fundadores da escola.
Segundo ele, toda família que entra na escola participa de 5 módulos de Letramento Racial, a fim de dar ferramentas teóricas e práticas para que cada pai, mãe e responsável construa a educação de seus filhos e filhas a partir de gestos antirracistas.
“Esta nitidez no contrato, além de fortalecer o estudo e o comprometimento das famílias brancas diante da educação de suas crianças, amplia a necessidade de atenção à qualidade relações étnico-raciais na escola e reforçando o compromisso da Jangada Escola com a transformação das relações étnico-raciais na sociedade”, complementa o fundador da escola.
Gabriela Mendonça, também fundadora da Jangada, reforça ainda que a escola é um território físico de uma Comunidade de Destino. “Todos os adultos que passam diariamente pela escola estão de algum modo ligados à infância. O epicentro dessa comunidade é justamente a espiral do paradoxo infantil: uma jornada que transforma adultos”, afirma.
De acordo com ela, no ensino fundamental 1 são trabalhados projetos interdisciplinares que favorecem a cidadania e a entrada no universo escrito e numérico. Entre tempos de aula e horas livres, a entrada na chamada segunda infância, nesse ciclo de escolarização, a formação de um estudante está em curso: a criança diante de um mundo de saberes ofertados cuidadosamente pelo planejamento da escola.
“É vocação de uma escola mediar o conhecimento como constituição de uma cidadania. No ensino fundamental 1 a criança opera concretamente sobre saberes que se introduzem no seu imaginário social e se comunicam com sua biografia – até esse momento percorrida nos primeiros anos de vida”, pontua.
É “fundamental” reconhecer essa qualidade de experiência no primeiro ciclo do ensino fundamental, conduta ética na iniciação do estudante que está sendo gerado na criança a partir dos 6 anos!
“Nossa rotina tem aulas de ciências naturais e sociais, números e letras, educação física e agrofloresta, artes plásticas e música. Sempre com horas livres fazendo parte desta composição. A escola se torna uma usina dos sentidos, onde a criança experimenta campos múltiplos da cultura através de uma pedagogia decolonial, onde culturas e ciências de diversas etnias a auxiliam em sua formação cidadã e reconhecimento de sua ancestralidade”, pontua.
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