Um homem negro, de 56 anos, foi obrigado a ficar de cueca por seguranças do supermercado Assai Atacadista, na cidade de Limeira (SP), para provar que não havia roubado nada. A vítima foi induzida a tirar toda a roupa, dentro da loja, e no meio de outros clientes que filmaram toda a ação dos funcionários do mercado.
No vídeo, é possível ouvir a indignação das pessoas que tentavam intervir na situação, mas eram impedidas pelos seguranças e por outro funcionário do estabelecimento. Em certo momento, ouve-se a voz da vítima chorando e gritando indignada: “eu vim aqui pra comprar alguma coisa e me chamam de ladrão”.
“Mais uma aberração no Atacadão Assai; em plena luz do dia obrigaram um cidadão preto a se despir para provar que não furtou. Faltam palavras para expressar minha revolta. São vermes, miseráveis, são racistas, são covardes”, comentou uma das pessoas que publicou o vídeo. Ainda nas imagens, é possível ver que depois de ser obrigado a tirar a roupa e ser empurrado para um canto do mercado, o homem aponta para os objetos dele que haviam sido deixados espalhados pelo chão pelos seguranças e questiona se algo daquilo pertencia à loja.
No áudio do vídeo, muitas pessoas gritam contra os seguranças e uma mulher repete “tem que chamar a polícia”. No boletim de ocorrência é descrito que o homem negro foi abordado por dois seguranças devido a suspeita de que cliente havia furtado produtos da loja na tarde da última sexta-feira (06), quando o abordaram e obrigaram a se despir. A ocorrência foi registrada no dia seguinte, sábado (07), como constrangimento, segundo a Polícia Civil, por não haver provas de injúria racial contra os funcionários.
A esposa da vítima, em entrevista jornal EPTV, disse que os seguranças alegaram que a suspeita se devia ao homem ter saído do supermercado sem comprar nada. Ela ainda conta que o homem havia saído de casa com o intuito de pesquisar os preços dos produtos.
Em nota enviada ao Notícia Preta, a empresa se desculpou pelo constrangimento causado à vítima e disse que, “como decisão imediata, ainda no final de semana, foi aberto um processo interno de apuração, realizado o afastamento do empregado responsável pela abordagem e, hoje, concluído o seu desligamento”. O Assai atacadista disse também que entrou em contato com a família do cliente, tão logo soube do ocorrido, se desculpando e se colocando à disposição para qualquer necessidade que ele tenha.
Ainda na nota, o Atacadista ressalta que a companhia não tolera abordagens “que fazem qualquer juízo de valor em relação à classe social, orientação sexual, raça, gênero ou qualquer outra característica”.
Também por nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo informou que a Polícia Civil disse que a natureza da ocorrência foi tipificada a partir das informações passadas no momento do registro, podendo ser alterada no decorrer das investigações. “Equipes da unidade estão em diligência para obter imagens, bem como identificar testemunhas e demais envolvidos dos fatos. A vítima será ouvida para dar mais detalhes sobre o caso, assim como os seguranças do estabelecimento comercial”, diz a nota.
Violência em supermercados
Em abril desse ano, Bruno Barros da Silva e Yan Barros da Silva, tio e sobrinho respectivamente, foram mortos depois de serem entregues pelos seguranças do Atakadão Atakarejo, em Salvador (BA), à traficantes da região. Os dois haviam sido flagrados pelos funcionários furtando peças de carnes.
Poucos meses antes, em novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas, homem negro, 40 anos, foi morto no estacionamento de um supermercado da rede Carrefour, na cidade de Porto Alegre (RS) por seguranças. Seis pessoas foram indiciadas por homicídio triplamente qualificado, pelo crime, e na semana passada, a rede de supermercados foi condenada a pagar cerca de R$ 3 milhões em honorários aos advogados da Educafro e do Centro Santo Dias, entidades civis que participaram da elaboração do acordo firmado após a morte de João Alberto. A viúva de João Alberto também será indenizada.
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