Na madrugada desta quarta-feira (7), o presidente do Haiti, Jovenel Moise, foi morto em um ataque à residência oficial, na capital Porto Príncipe, segundo anúncio do primeiro-ministro do país, Claude Joseph. A primeira-dama, Martine Moise, também levou um tiro, mas não teve seu estado de saúde informado.
“Um grupo de indivíduos não identificados, alguns dos quais falavam em espanhol, atacou a residência privada do presidente da República” por volta da 1h e “feriu mortalmente o Chefe de Estado”, disse o premiê.
O país de 11,4 milhões de habitantes faz fronteira com a República Dominicana em uma ilha no Caribe e tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do mundo: 0,51. O ataque ocorreu em meio a uma onda de violência ligada ao empobrecimento do país e aos escândalos de corrupção, devido ao desvio de pelo menos 2 bilhões de dólares dos acordos de cooperação energética por parte de diversos integrantes da classe política, entre eles, o presidente assassinado, Jovenel Moïse, e seu partido, o Partido Haitiano Tèt Kale.
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Moïse vinha enfrentando fortes protestos desde que assumiu a presidência, em 2017, com a oposição o acusando de tentar instalar uma ditadura ao prolongar seu mandato e tornar-se mais autoritário. A situação ficou mais crítica quando, em 7 de fevereiro deste ano, Jovenel Moïse se recusou a deixar o poder. Segundo ele, seu mandato deveria terminar somente em fevereiro de 2022, afirmando que o primeiro ano, dos cinco que devem ser cumpridos, teve o cargo ocupado por um presidente interino.
Crise política
O país possui uma longa história de ocupações, interferências e golpes de Estado com apoio internacional, que tornaram o Haiti uma neocolônia francesa apenas alguns anos após a sua Revolução de 1804, e depois uma neocolônia norte-americana após a ocupação dos fuzileiros navais ianques entre 1915 e 1934. E continuado através da tutela de governos civis e militares pós-ocupação e finalizado com a ditadura vitalícia de François e Jean-Claude Duvalier até sua queda em 1986.
O país possui uma tríade para a sua política de recolonização que é composta pelos Estados Unidos, França e Canadá. Desde 1957, todos os governos do Haiti – com exceção do primeiro governo do padre progressista Jean-Bertrand Aristide e mais tarde de seu deputado René Préval – chegaram ao Palácio Nacional com a intervenção, golpe ou ocupação promovidas por administrações americanas, sejam elas democratas ou republicanas. A lista de executivos preparadas pelos países ocidentais inclui um ditador vitalício, seu filho adolescente, um general aposentado, um pastor evangélico, etc.
Em resumo, a oligarquia no Haiti nunca deixou o poder, e nunca houve nada que se assemelhasse a uma burguesia liberal, progressista e industrial. “Elite repugnante”, disse um escritor haitiano, segundo ele o país é composto de uma classe oligárquica, mas acima de tudo de uma burguesia importadora que se reproduz de forma parasitária através do controle da alfândega do país. “Uma burguesia que não produz nada, consome tudo e quase não vive em seu próprio país. […]O próprio Moïse é um típico empresário do setor bananeiro, catapultado para a política a partir do seu capital acumulado no setor agrícola e agroindustrial, com empresas comprovadamente fraudulentas como a AGRITRANS, participantes de vários desfalques do erário público”, de acordo com reportagem do Brasil de Fato.
Manifestações
No dia seguinte à recusa do presidente, manifestações lideradas pela população, organizações de direitos humanos e igrejas locais e tomaram conta das ruas para pedir a renúncia de Moïse. As manifestações foram fortemente repreendidas por militares que apoiam o presidente assassinado. Nesse momento, o presidente alegou que sofreu uma tentativa de golpe de Estado e também de assassinato, e assim, prendeu aproximadamente 20 pessoas sob a acusação de complô. Entre os presos estava o juiz Yvickel Dabrésil, que faz parte da Suprema Corte do Haiti, e está entre os representantes do poder Judiciário que poderia assumir como presidente provisório caso Moïse deixe a presidência, de acordo com o R7.
Yvickel foi liberado no dia 11 de fevereiro após muita pressão da sociedade civil e da comunidade de juízes do Haiti. Porém, ele foi aposentado pelo presidente da República, mesmo sem ter concluído seu mandato de 10 anos na Suprema Corte.
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