Bairros periféricos e com predominância de moradores negros tem maior número de vítimas fatais
Um ano após o início da pandemia e com a chamada “segunda onda” de Covid-19, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) disponibilizou um levantamento que enumera os casos da doença na capital mineira, bairro a bairro. Segundo os dados, os locais com maior número de casos e vítimas fatais pelo coronavírus são Serra, Região Centro-sul, com 53 óbitos; Alto Vera Cruz, Leste, com 46; Lindéia, Barreiro, somando 43 mortes; Cabana do Pai Tomás, Oeste, e Padre Eustáquio, Noroeste, com 38; Sagrada Família, Leste, com 37; e Mantiqueira, Venda Nova, totalizando 34 óbitos pelo coronavírus.
Para o cientista social, João Saraiva, a chegada dos tratamentos nas comunidades pode ter melhorias tanto em questão de infraestrutura quanto em relação ao número de profissionais. Além disso, a participação popular é de suma importância para esta melhoria. “É importante também trazer que a participação popular, através de conselhos e conferências de saúde são portas de entrada para que a chegada desses tratamentos seja sempre aprimorada, de maneira com que haja uma interlocução das demandas com o poder público de maneira mais adequada”, afirma Saraiva e ressalta ainda que “é através também da participação popular que se viu a urgência de criar a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que vem atuar no sentido social e histórico das especificidades desse segmento tão expressivo da população brasileira no acesso à saúde pública”.
Já em proporcionalidade, o Conjunto Felicidade, Região Norte de BH, é um dos que mais preocupam as autoridades. Entre janeiro e março deste ano, foram 11 mortes em decorrência da Covid-19, praticamente a mesma quantidade de óbitos de todo ano de 2020, 12 moradores perderam a vida para o coronavírus. Os bairros Glória, Noroeste, e Conjunto Teixeira Dias, Barreiro, também são focos das autoridades sanitárias. Nos últimos três meses, o número de mortes mais que dobrou, passando de quatro para 11 óbitos, entre 8 de dezembro e 16 de março.
Saraiva enfatiza que existe um sem número de pessoas em situação de subemprego, de desemprego, de mendicância, e de pessoas em situação de rua, expondo, ainda mais, ao vírus. “A Covid-19 é um vírus que se contamina por exposição, por isso a necessidade urgente de um lockdown, somado a mecanismos de proteção social adequados, que garanta subsistência tanto da população mais pobre e desempregada, quanto aos pequenos e médios empreendedores afetados diretamente pela situação econômica do país”, analisa.
Para enfermeira especialista em educação e saúde, Iara de Almeida Pires Ribeiro, saúde não é somente ausência de doença e engloba outros fatores que determinam o adoecimento e que estão ligados à condições sociais. “Essas condições sociais são fatores que determinam o padrão de morbidade e mortalidade. Desta forma, pessoas que residem em periferias, possuem maior risco de adoecimento e menor cobertura em saúde”, afirma.
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Aparentemente, os números são relativamente pequenos, no entanto, é reflexo do aumento dos casos de Covid-19 na capital mineira, que vem crescendo vertiginosamente. Até o dia 31 de dezembro de 2020, Belo Horizonte contabilizava 1.877 óbitos pela Covid-19, no final de março, este número deu um salto para 3.224 vítimas fatais. Em apenas três meses, 1.347 mortes, quase a mesma quantidade de todo o ano de 2020.
“Golpe da Vacina”
Recentemente, uma enfermeira de Belo Horizonte foi presa pela Polícia Federal (PF), na operação Camarote, suspeita de aplicar vacinas falsas em empresários da capital mineira e cobrar R$ 600 por cada dose. Para João saraiva, o golpe da vacina falsa escancara o Brasil que é historicamente dividido pela desigualdade social e racial. “É cultural no nosso país a ideia do ‘você sabe com quem está falando?’. Quem já escutou essa frase, entende o que ela quer dizer. Essa presunção e afirmação de uma suposta superioridade social de quem a profere, é uma busca por comprar acessos, comprar permissões, e quase ser alguém que está acima das leis”, comenta.
Já a enfermeira ressalta o perigo da automedicação e da vacinação clandestina. Além disso, o fato de pessoas abastadas terem mais facilidade de acesso a tratamentos. “Esse fato é um exemplo de vacinação clandestina, o que é errado e pode ser perigoso também. Nesse caso a substância injetada foi soro fisiológico, o que é compatível com a vida e não trouxe danos de saúde mas poderia ter sido qualquer outra. Pessoas com melhores condições sociais e poder de compra, consequentemente, possuem melhor acesso à saúde e sabemos que pretos e periféricos não são detentores dessas condições”, finaliza.
Parabéns ao João Vitor, que de forma séria , de quem tem compromisso com os mais vulneráveis da cidade, é incansável em sua luta cotidiana para esclarecer, divulgar e colocar em pauta os temas que afligem a comunidade!