A cidade de Boston (EUA) anunciou que vai pagar uma indenização de US$ 150 mil, cerca de R$ 792 mil, a dois homens negros acusados injustamente de assassinato em 1989. Willie Bennett, hoje com mais de 70 anos, receberá US$ 100 mil, enquanto Alan Swanson, de 65 anos, ficará com US$ 50 mil. O acordo foi anunciado após um pedido público de desculpas da prefeita Michelle Wu, que reconheceu a injustiça histórica do caso.
A acusação ocorreu no fim dos anos 1980, quando Charles Stuart assassinou sua esposa, Carol Stuart, grávida de oito meses, e forjou um assalto, alegando que o crime havia sido cometido por um homem negro. A versão levou a polícia a prender Swanson, um jovem em situação de rua, e posteriormente Bennett, após relatos de adolescentes. A narrativa foi desmentida meses depois, quando Matthew Stuart, irmão de Charles, revelou que o crime havia sido planejado pelo próprio. Pressionado pelas evidências, Charles cometeu suicídio em 1990.
As acusações injustas se tornaram símbolo do racismo estrutural no sistema de justiça de Boston, uma cidade marcada por tensões raciais. Comunidades negras denunciaram na época a ação policial seletiva e a pressa em culpar homens negros sem provas consistentes. O caso voltou a ganhar repercussão recentemente após novas investigações jornalísticas e uma série documental da HBO sobre racismo institucional nos Estados Unidos.
Durante o anúncio do acordo, a prefeita Michelle Wu afirmou que a cidade tinha a obrigação de reconhecer o erro. Segundo ela, a prisão injusta de Bennett e Swanson provocou dor e sofrimento não apenas aos dois homens, mas também a toda a comunidade negra. Wu destacou que a reparação financeira é simbólica, mas representa um gesto de reconhecimento e pedido de desculpas oficial.
Embora considerado insuficiente por muitos diante das décadas de estigma e perdas econômicas e emocionais, o pagamento é um marco para as vítimas e para movimentos sociais que pressionavam por justiça. O caso evidencia como a associação automática entre criminalidade e cor da pele pode destruir vidas e mostra a importância de políticas de reparação em contextos de injustiça racial.