Nas eleições municipais deste ano, 652 mulheres foram eleitas prefeitas, o que representa 12% dos municípios do país. Destas, 32% são negras, sendo 199 pardas e apenas 10 autodeclaradas pretas. Em 264 cidades, pela primeira vez neste século, uma mulher foi eleita prefeita e 98% delas contam com menos de 100 mil habitantes. Deste total, 83 são autodeclaradas pardas e 5 pretas.
Para a cientista política, especialista em cultura afro-brasileira e comunicação política, Juliana Silva, existe uma necessidade de políticas afirmativas segmentadas, uma vez que mulheres negras e brancas têm oportunidades diferentes. “Mulheres brancas sofrem discriminação. Mulheres negras sofrem discriminação. Mas sabemos que mulheres negras sofrem discriminação elevada à terceira potência. Além disso, pela trajetória histórica, estão nas classes mais baixas e, muitas vezes, à margem da sociedade. Nem sequer tem conhecimento político porque está muito ocupada lutando para sobreviver e fazer seus filhos sobreviverem. Então, é uma construção”, afirmou.
Ataques e ameaças
Mesmo eleita por um partido considerado de direita, em Bauru (SP), a jornalista Suéllen Rosim (Patriota) sofreu ataques racistas e ameaças de morte. A Polícia Civil disse ter identificado autor das ofensas racistas postadas nas redes sociais e, segundo o delegado Eduardo Herrera dos Santos, o suspeito é um homem negro de 37 anos que queria “despertar uma discussão”. Após depoimento o autor, que não teve sua identidade revelada, foi liberado. Ele é investigado pelo crime de injúria.
Investimento em Educação
Juliana ressalta que o investimento em educação ainda é a melhor saída para acabar, ou pelo menos minimizar, esse “abismo” entre mulheres negras e homens brancos. “Como longo prazo, precisa investir em educação pública de qualidade e antirracista. Como médio prazo precisa segmentar ainda mais a política de cotas. Para além dos 30% para mulheres, precisamos enfatizar a mulher negra justamente por ter especificidades diferentes e dificuldades maiores. Por ter especificidades diferentes é que foi criado o feminismo negro. E para reparar tanto a raça quanto o gênero, precisamos segmentar as políticas para mulheres negras. Para este público, apenas políticas raciais não resolvem, assim como apenas políticas de gênero não resolvem. Precisamos de políticas com recorte de gênero e raça e não gênero ou raça”, finalizou.
Ao todo, o Brasil tem 5.568 municípios e 60% nunca tiveram uma prefeita à frente do executivo municipal. Das 383 prefeitas que tentaram a reeleição, 32% conseguiram.
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