Por Saulo Gonçalves – Nutricionista
O número de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) continua a crescer nos Estados Unidos, segundo o mais recente relatório do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), publicado em abril de 2025. O estudo, conduzido pela Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network em 16 estados norte-americanos, mostra que, em 2022, uma em cada 31 crianças de 8 anos foi diagnosticada com autismo — uma prevalência de 32,2 casos por mil crianças.
O aumento nos diagnósticos não significa necessariamente que mais crianças estão desenvolvendo autismo, mas sim que estamos identificando melhor — e, em alguns casos, mais cedo — os sinais do transtorno.

Outro ponto marcante é a discrepância racial e social. A prevalência entre crianças asiáticas ou ilhéus do Pacífico (38,2), indígenas norte-americanas (37,5), negras (36,6) e latinas (33,0) foi superior à observada em crianças brancas (27,7). A inversão de um padrão histórico é positiva no sentido de
mostrar que mais crianças de grupos antes negligenciados estão sendo diagnosticadas. Mas, ao mesmo tempo, preocupa a associação com condições socioeconômicas desfavoráveis. Essa realidade pode refletir a influência dos chamados determinantes sociais da saúde, como acesso precário a cuidados na
gestação, exposição a toxinas e desnutrição.
A realidade do diagnóstico de autismo em pessoas negras: Invisibilizadas, crianças negras neurodivergentes têm infância marcada por desafios. Vamos entender principais pontos sobretudo nutricional.
- Crianças autistas negras têm 2,6 vezes mais probabilidade de receberem diagnósticos errados de transtorno de ajustamento ou transtorno de conduta, antes do diagnóstico de TEA
- Crianças autistas negras não são mais propensas a ter comportamentos de agressão e hiperatividade do que as crianças brancas no espectro
- A probabilidade de diagnóstico de crianças negras aumenta quando o indivíduo tem apresentações clínicas de TEA que requerem maior nível de suporte
- Atrasos nos processos de avaliação de crianças negras podem alongar entre 1,5 e 3 anos o processo de diagnóstico de TEA.
O racismo contra negros é um problema que também se estende ao campo do autismo afetando desde o diagnóstico até o encaminhamento e prestação de serviços adequados. Um relatório publicado recentemente chama a atenção para as maneiras como o racismo afeta a intervenção em indivíduos
autistas, demonstrando os efeitos do racismo na avaliação do autismo, no tratamento e na qualidade do atendimento e fazendo cinco recomendações para que os médicos envolvidos neste processo iniciem uma mudança sistêmica nesse cenário.
Os nutricionistas são fundamentais para identificar o grau de seletividade alimentar do indivíduo com Transtorno do Espectro Autista (TEA), além de orientar para uma dieta adequada e auxiliar a introduzir novos alimentos. Dentre as características de quem tem TEA, está a repetição de padrões e de ter interesses muito específicos. Esse comportamento pode estar presente durante as refeições, gerando o que se chama de “seletividade alimentar”.
Essa realidade pode levar a pessoa autista apresentar sérias deficiências nutricionais. Em virtude dessa seletividade alimentar, há a necessidade de um acompanhamento contínuo com o nutricionista e outros terapeutas porque, às vezes, a pessoa também pode ter problemas de mastigação e de deglutição.
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