O economista Marcelo Medeiros, que escreveu o livro “Os ricos e os pobres: O Brasil e a desigualdade”, tenta explicar quem são os mais ricos e mais pobres no Brasil. Em entrevista para a BBC, o doutor em sociologia afirmou nesta segunda-feira (30), que “metade de todo o crescimento brasileiro está indo para as mãos só de 5% da população”.
Marcelo afirma que o Brasil teve momentos com maior crescimento pró-pobre, ou seja, com maior distribuição de riqueza para os mais pobres, e houve períodos de crescimento pró-ricos. Mas que nos últimos anos a tendência beneficiou quem tem mais dinheiro.
“As últimas duas décadas, arredondando um pouco, um quarto de todo o crescimento foi apropriado só por 1% da população. Ou, se quiser outro número que é equivalente a esse, mais ou menos metade de todo o crescimento brasileiro está indo para as mãos só de 5% da população”, analisou.
O autor também explica que é preciso compreender que embora os números mostrem que há 10% mais ricos no Brasil, não há uma homogeneidade. Ou seja, mesmo dentro destes 10% mais ricos, há diferenças de renda entre os grupos.
“É importante parar de achar que existe um ponto a partir do qual se identifica claramente quem são as pessoas ricas. Não é a partir dos 10% (com maior renda), não é a partir dos 5% (com maior renda), não é a partir do 1% (com maior renda), porque todos esses grupos são extremamente heterogêneos”, explica.
Ele acredita que apenas, investimento em educação, ou uma tributação progressiva (na qual os ricos seriam mais taxados), não seria suficiente para resolver a questão da desigualdade no Brasil, ele acredita que é uma série de políticas que vai tornar o Brasil um menos desigual. O escritor também explicou que “crescimento pró-pobres é completamente diferente de um crescimento pró-ricos, embora o resultado final possa ser a mesma taxa de crescimento (do PIB)”.
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Sobre os recortes de gênero e raça, ele entende que é preciso ter mais representatividade no Supremo Tribunal Federal (STF), e considera positiva a aprovação da renovação da Lei de Cotas. O intelectual analisa que os negros têm mais dificuldade para avançar na educação devido aos obstáculos, inclusive dentro da escola. Mas defende que é preciso ir além das cotas e que estas são complemento.
Na entrevista o professor buscou dar exemplos ,e citou que “a educação dos negros é menos valorizada que a educação dos brancos. Um homem branco e um homem negro com exatamente a mesma educação, o homem negro tenderá a ter um salário mais baixo. Portanto, os caminhos têm que ser outros. O sistema de cotas é um complemento a outras medidas que precisam ser tomadas”.
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