A pesquisa mostrou ainda que 4 em cada 10 entrevistados já sofreram algum tipo de violência policial
O Instituto Datafavela e a Central Única das Favelas (CUFA), realizaram uma pesquisa, intitulada “Periferia, Racismo e Violência”, em parceria com o Instituto Locomotiva, divulgado esta semana, e revelou que metade das pessoas que moram em periferias disseram ter medo da polícia. O mesmo estudo revelou que a frase “a polícia é perigosa para pessoas como eu”, afeta 54% das pessoas negras, enquanto para as pessoas brancas, 17% da frase faz sentido. Além disso, a pesquisa mostrou também que apenas 5% dos brasileiros acreditam que a polícia não é racista. Por outro lado, 52% dos entrevistados avaliam a polícia como “muito racista”. Entre as pessoas negras, esse número sobe para 60%.
Violência policial e periferia
Sendo os principais alvos da polícia, os moradores de periferia revelaram também que 4 em cada 10 brasileiros já sofreram algum tipo de violência advinda de agentes, seja desrespeito, agressão verbal e física ou extorsão e os homens negros são mais expostos às abordagens do tipo, mesmo em comparação com homens brancos de baixa renda.
Além disso, a pesquisa mostrou que 56% da população negra (pretos e pardos) já se sentiram intimidados ao interagir com policiais em situações rotineiras. Porém, quando se observa apenas os relatos de pessoas pretas, o número sobe para 67%.
Segundo a cientista social Silvia Ramos, os meninos negros periféricos, principalmente, aprendem a ter medo da polícia desde pequenos, das abordagens injustificadas, humilhações e espancamentos. “Quando a gente vê que a polícia do Rio de Janeiro matou mais de 1.810 pessoas [em 2019] e, esse ano, só durante a pandemia, em abril, matou 43% a mais em operações do que no ano passado, eles percebem que a polícia é violenta e racista, orientada para identificá-lo como criminoso”, disse Ramos no debate online de apresentação da pesquisa nesta quarta-feira (8).
Experiência familiar
Mesmo já sendo conhecido nacionalmente, o rapper Rappin’ Hood afirmou que sente medo do filho dele nas ruas. “Sempre disseram que éramos marginais, maloqueiros, mas éramos apenas homens negros. Tenho um filho de 18 anos e medo de deixar meu garoto ir pra a rua. O medo que meus pais sentiam”, revelou.
O que dizem as autoridades
De acordo com o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, coronel Alvaro Batista Camilo, a comoção mundial com a morte de George Floyde influencia a pesquisa e, ainda segundo ele, a Polícia Paulista não compactua com atitudes racistas. “Nós nos preocupamos muito com os direitos humanos, em tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratados. Procuramos transmitir isso ao policial e temos procedimentos de gestão para rever as ações da polícia”, afirmou Camilo, para quem os casos de violência policial no estado são pontuais.
Segundo Elizeu Soares, ouvidor das polícias paulistas, o racismo não é um problema apenas dos agentes de seguranças, mas estrutural. “O estado brasileiro é racista. Acho errado isolar uma instituição quando o problema é de toda a sociedade. Quando chega na mão do policial é porque o estado já falhou. Precisamos ressignificar a cidadania e criar uma cultura de paz, de confiança na polícia”, alertou.
No entanto, de acordo com Marcelle Decothé, do Instituto Marielle Franco, apenas modernizar a polícia não é o suficiente, é preciso mais que tecnologia para uma mudança real. “Mais armas, helicópteros e operações sofistificadas não diminuem o número de homicídios e nem a violência policial. Precisamos que o estado não entre na favela só com o braço de segurança pública, a polícia”, lamentou.
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