Conheça 10 restaurantes liderados por pessoas negras indicados pelo Preto Gourmet em 2023

É retrospectiva que vocês querem!? É uma retrospectiva gastronômica que Preto Gourmet traz para vocês leitores do Notícia Preta no final deste ano. Nas minhas andanças pelo Maranhão, Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais em 2023, tive experiências fantásticas; e, por isso, escolhi 10 restaurantes liderados por pessoas pretas ou pardas que você precisa conhecer se passar por uma dessas cidades. 

Jiló Salvador – liderado pelo chef Ícaro Rosa, o restaurante localizado na região da Pituba, na capital mais alegre do país, oferece um menu contemporâneo com inspirações familiares. Muitas das inspirações do chef vieram de sua mãe e dos almoços em família – como um dos carros chefes da casa: o rosbife do chef.

O Jiló Salvador foi eleito o melhor restaurante do Brasil no Prêmio Gastronomia Preta em 2023. Embora esteja em Salvador, essa é a “filial” – a história do Jiló começa em Itacaré (Bahia). Seja em Salvador ou em Itacaré, o arrojo da cozinha do chef Ícaro é uma das marcas da experiência: é muita técnica e cuidado nas preparações.

Salada de mix de folhas, tomate e cebola assados e creme tonato – Foto: Divulgação/Instagram

Taioba Gastronomia – no litoral norte de São Paulo, em Camburí (São Sebastião) temos, além de um grande chef preocupado com as causas sociais, um excelente restaurante que valoriza a comida caiçara – e, especificamente, uma PANC (planta alimentícia não convencional). Taioba é uma das PANCs que por anos ficou de fora dos “pratos gourmetizados” elaborados pelos chefs estrangeiros. Precisou de um chef brasileiro, com vasta experiência internacional, nomear seu restaurante com esta planta e visibilizar nossa ancestralidade – principalmente a caiçara.

O nome do chef é Eudes Assis e sua comida nos leva às nossas ancestralidades na pluralidade que é o nosso país. O famoso bolinho de taioba é a assinatura autoral do Chef Eudes no Taioba Gastronomia; que, com um atendimento impecável, faz da nossa experiência um momento singular no restaurante.

Bolinho de Taioba – Foto: Divulgação/Instagram

Pescados na Brasa – “Eu vou tomar um tacacá, curtir, dançar, ficar de boa..” E o Pescados na Brasa já fazia sucesso no Riachuelo (bairro carioca) antes mesmo do sucesso da Joelma ressurgir em 2023. Já foi eleito o melhor restaurante de comida brasileira do Rio de Janeiro pela Veja Comer & Beber e também pelo RioShow, do Jornal O Globo.

Em tão pouco tempo é um fenômeno daqueles de levar celebridades e formadores de opinião para o subúrbio. A chef Adriana Veloso traz sua essência na comida e na hospitalidade. Além da comida paraense aprovada pelos paraenses no Rio, pelos cariocas e turistas, ir ao Pescados na Brasa é uma experiência completa. Uma vez por mês tem carimbó – e é uma gostosura colocar a saia e dançar até a banda parar.

Menu Degustação do Pescados na Brasa – Foto: Rodrigo Azevedo

Sofia  Restaurante – a cena gastronômica carioca agradece mais uma vez à chef Kátia Barbosa. O Sofia, homenagem à mãe da chef, é pura gastronomia brasileira que evidencia a diversidade e riqueza de sabores dos nossos produtos.

Se querem colocar a chef no lugar apenas dos bolinhos (a comida de boteco), Kátia mostra toda sua versatilidade em técnicas e construção de sabores com produtos do nosso dia a dia. Uma das novidades no Sofia é o Dia da Provinha – um dia em que até 20 clientes podem experimentar as novas preparações da chef e de sua equipe com um preço muito acessível. Meu nome já está na lista de novo. 

Foto: Reprodução/Instagram

Casa de Ieda – e tudo começa e termina com um cheiro da chef Ieda de Matos. Além da técnica, não duvidamos que é esse tempero baiano que faz a comida da chef ser uma explosão de sabores. A gente não tem palavras para definir a experiência de se deliciar com o homus de feijão branco e toda regionalidade trazida pela baiana para o bairro de Pinheiros, em São Paulo.

Não é a toa que é a chef dos chefs – vira e mexe tem chef renomado parado no balcão ou nas mesas de Casa de Ieda para comer uma boa comida – e não se assuste se chegar lá e encontrar chef midiático na cozinha cortando tomate voluntariamente (eu já presenciei essa cena). Ela é a queridinha dos chefs  – afinal, com uma comida tão gostosa e um carisma tão grande, todo mundo quer estar na Casa de Ieda (que foi um dos restaurantes finalistas do Prêmio Gastronomia Preta 2023). Se estiver em São Paulo, não deixe de visitar a Casa de Ieda e receber um cheiro dela e do Zé.

Mal-assada – Foto: Ricardo Dangelo

Diamante Gastrobar – o chef João Diamante abriu recentemente próximo ao estádio do Maracanã o seu nome empreendimento que tem como objetivo valorizar os insumos lidos historicamente como mais “limitados” – ou, de maneira mais direta: ingredientes da “cozinha de pobre” (aspas minhas). Dois pratos me chamaram muita atenção pelo sabor e pela releitura.

O primeiro deles é língua de boi que de tão fininha parece um carpaccio (mesmo não sendo crua) – quem diria que no alto do meu nojo por algumas partes das carnes eu comeria e gostaria… ponto para o chef João Diamante! O segundo prato que comi e que me despertou várias sensações foi coração de galinha à milanesa – é um insumo tão comum nos pratos dos brasileiros que é repensado a partir de uma releitura do bife à milanesa. Vale a pena visitar o Diamante Gastrobar e experimentar estes dois pratos.

Coração à Milanesa – Foto: Fábio Rossi

Preto Cozinha – Imponente, belo, sofisticado e com comida baiana contemporânea no coração de Pinheiros, em São Paulo. Liderado pelo chef Rodrigo Freire, o Preto Cozinha é um restaurante que valoriza as origens do seu criador por meio  das receitas de sua família e suas conexões com a Bahia. Foi eleito o restaurante revelação de 2023 pela revista Prazeres da Mesa e tem uma criação autoral do chef que nos arrebata: o arroz de xinxim (você precisa experimentar).

E, como uma experiência completa, os drinks autorais do restaurante e do bar (no terceiro andar) trazem um charme a mais na experiência do comensal. Sugiro verificar as reservas antes de ir como passante – a casa sempre está bem movimentada.

Arroz de Xinxim de Galinha – Foto: Instagram/Preto Cozinha

Cozinha Ancestral – o melhor acarajé que eu já comi na minha vida é da cozinheira Leila Oliveira, responsável pelo Cozinha Ancestral, em São Luís do Maranhão. Com uma comida conectada com sua religiosidade e ancestralidade, Leila Oliveira  nos oferece uma experiência singular por meio de suas preparações.

No menu do restaurante que fica na Avenida Beira Mar na capital maranhense, temos a possibilidade de experimentar drinks e sobremesas com frutas típicas da região; bem como outros pratos como Arroz da Praia, Banquete do Caçador e Banquete do Círio. Se você passar por São Luís, não deixe de se deliciar no Cozinha Ancestral (que às vezes tem fila para se sentar). Afinal, restaurante vazio não é sinal de boa comida.

Acarajé do Cozinha Ancestral – Foto: Divulgação

Blackssoba – e quem disse que preto não pode fazer cozinha asiática!? Karen Lima e Diego Evaristo estão na Zona Norte de São Paulo, no bairro Jardim Brasil, para mostrarem que preto pode cozinhar o que quiser – e com qualidade e técnica. Blackssoba é um nome que por si só já evidencia o recorte racial na proposta dos donos do restaurante. Eu já comi muita comida asiática nessas minhas andanças e é do Blackssoba o melhor tempurá que eu já experimentei em toda a minha vida.

Na minha percepção, colocou no chinelo muitas casas especializadas em comida asiática no Rio de Janeiro e em São Paulo. E junta todo esse sabor à linda história de vida do casal que por mais dificuldades que pudessem passar; se reergueram do zero para fazer acontecer seu maior sonho: ter a loja física do Blackssoba. É daquelas histórias que nos arrebatam e por isso foram homenageados no Prêmio Gastronomia Preta com a categoria “Nossa História”.

Yakisoba Misto (carne e frango) – Foto: divulgação

Casa Midispache – é no Engenho Velho de Brotas, nas vielas do alto da Rua Vila América, em Salvador, que fica a Casa Midispache. Tive o prazer de conhecer o negócio de Géssica Oliveira e sua mãe (dona Marinalva, que comanda a cozinha), por meio do Edital Entra na Roda – do qual eu fui jurado. A Casa Midispache era um dos negócios em alimentação finalista do concurso; e, posteriormente, se tornou um dos vencedores junto com o Coletivo Agroecológico Quilombo Ausente Feliz.

Leia também: “Celebrar a potência do povo preto”, diz Preto Gourmet sobre Festival Gastronomia Preta

Claro que na primeira oportunidade em Salvador fui visitar o empreendimento e me surpreendi com o que vi. O prêmio do Edital Entra na Roda da cantora Iza foi usado de maneira muito estratégica pelas empreendedoras – principalmente na potencialização do uso das tecnologias. Investiram nos canais de delivery e hoje estão alçando voos cada vez mais altos. E não poderia ser diferente: a comida de Dona Marinalva é pura ancestralidade. Aquele Arroz de Hauçá continua vivo na minha memória e não vejo a hora de desembarcar em Salvador novamente e me deliciar com as delícias da Casa Midispache.

Arroz de Hauçá – Foto: divulgação

Eu terminei de escrever este texto e deu um gatilho de boa comida. O que fazer agora!? Preparar uma coisinha simples em casa, pedir um delivery ou ir a um desses restaurantes!? Comente lá no Instagram. E que 2024 possa ser repleto para mim e para vocês de boas experiências gastronômicas.

Preto Gourmet

Preto Gourmet

Empreendedor Social, criador do Prêmio Gastronomia Preta, criador do conceito Economia Pretagonista, professor de Administração no curso de Gastronomia na UFRJ, doutor em Administração (Eaesp-FGV), autor de 11 livros, pesquisador (com dezenas de artigos científicos) e homem preto que cria rupturas numa gastronomia eurocentrada. É jurado do Edital Entra na Roda da cantora Iza e curador do Camarote Folia Tropical (2023) em Gastronomia e Inclusão Social.

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