Nascida e criada no subúrbio carioca, a hair stylist e embaixadora do grupo L’Oréal Professionnel, Vivi Siqueira, compartilhou com o Notícia Preta sua trajetória no ramo da beleza. A especialista fala sobre determinação e experiência como mulher negra atuante na maior empresa de cosméticos do mundo.
Expert em cores e mechas, Vivi conta que nunca imaginou ser cabeleireira, tudo aconteceu porque foi uma adolescente “mega rebelde”. Ela diz que, aos 16 anos, cismou que precisava trabalhar. “O meu primeiro emprego foi num salão de beleza, como assistente. E lá, de fato, aprendi a amar e me apaixonei pelo o que eu faço hoje”. Atualmente, com 26 anos de carreira, ela afirma ter percorrido uma jornada repleta de aprendizados, e que não mudaria nenhum detalhe da sua história. “Se necessário, faria tudo novamente”, confirma.
Determinada, Vivi manteve o foco no aperfeiçoamento das técnicas de coloração. Com o passar dos anos, oportunidades contribuíram para que a cabeleireira pudesse explorar novos espaços. E foi quando ela saiu de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, para colaborar em um salão na Barra da Tijuca, bairro conhecido como a “Miami brasileira”.
Nessa mesma região, em 2018, Vivi Siqueira inaugurou seu primeiro estúdio especialista em cuidado e renovação capilar, o Espaço VS Hair & Co. Figuras como Roberta Rodrigues, Viviane Araújo, Valesca Popozuda e Susana Vieira são algumas das estrelas que já passaram pelo salão.
Em poucos anos, o negócio tomou cada vez mais proporção, e a empreendedora teve a oportunidade de expandir seu espaço. Vivi conta que se mudou de uma estrutura com 150 m² para um novo ambiente de 600 m².
Para dar seguimento ao projeto, a cabeleireira fez da determinação a sua aliada. Manteve o foco e agiu para que o espaço alcançasse ainda mais pessoas, embora estivesse em um cenário atípico. A criação do novo espaço veio durante o auge da pandemia de covid-19, período em que organizações estéticas não estavam incluídas na lista de serviços essenciais.
“Eu não aceito a derrota. Não existe derrota na minha vida. Vai dar certo!”, fala a expert. Ela diz que nem a distância a impediu de dar continuidade ao seu propósito. Através das redes sociais, o Espaço buscou maneiras de entreter e criar novos vínculos com o público.
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“Eu aprendi que quando se tem a diversidade, a gente consegue mostrá-la para quem entra”. Vivi reconheceu que, através da comunicação, seria possível expandir a sua ideia a um público maior e plural. “A equipe do Espaço VS entende que o salão não se trata apenas de uma construção física, mas também é um campo de trocas e acolhimento”, explica.
Vivi comenta sobre a importância de mulheres crespas e cacheadas, principalmente, sentirem-se à vontade em um salão de beleza. Afirma ainda que o Espaço VS, diante de toda a diversidade com que trabalha, é onde essas mulheres se enxergam e são representadas.
Ressalta que é preciso manter o “cuidado” como demonstração de respeito pela história dos cabelos.
“As vivências são outras, tendo, ainda, a questão emocional. As memórias da cacheada não são as mesmas da lisa”.
Linha Curl Expression
Em 2018, Vivi Siqueira foi contemplada com o título de embaixadora do Grupo L’Oréal Professionnel, área da multinacional que foi criada para o desenvolvimento de produtos para cabelos. No Brasil, Vivi tornou-se co-criadora da primeira linha de produtos da marca dedicada especialmente para cabelos ondulados, crespos e cacheados.
O lançamento da linha alcançou um público maior, segundo a empresária. Hoje, mulheres pretas, crespas e cacheadas marcam presença no salão de beleza. Vivi menciona que manter uma conexão com clientes nas redes sociais faz toda a diferença para o gerenciamento do negócio.
Sentir-se acolhida não foi um privilégio apenas de clientes que frequentam o estúdio. Com a chegada da linha Curl Expression, Vivi, que até então mantinha o uso de megahair liso ou de uma curvatura muito diferente da sua curvatura natural, se viu na missão de expressar seu cabelo natural para o mundo. Foi então que ela deu início ao processo de transição capilar – retirada de toda a química do cabelo – para ajudar outras pessoas que enfrentavam o mesmo desafio.
“Não teria sentido eu alisar o meu cabelo (…) Eu jamais iria falar ou vender uma mentira para ninguém”, diz a hairstylist. Ela pontua que a transição não foi algo fácil: “Eu comecei a me sentir muito mal (…) demorei quase um ano sem conseguir me enxergar. Eu me olhava e me achava feia”.
A profissional se recorda de retratos de infância onde seu cabelo sempre estava alisado, preso ou desarrumado. Vivi diz não se lembrar ou saber de como realmente era o seu cabelo. “Você passa por esse processo de se reconhecer novamente com o cabelo que você nem lembrava que tinha”.
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Mais do que uma embaixadora L’Oréal
“Eu cuido muito de cada um. Sempre impulsionando, sempre colocando pra frente (…) o meu lugar de fala é um lugar de empoderamento”, fala Vivi Siqueira.
Aos 42 anos, a empresária diz nunca ter imaginado que se tornaria embaixadora da maior empresa de cosméticos do mundo, logo ela: uma mulher preta, funkeira e do subúrbio carioca. Quando é procurada pela imprensa, o sentimento é de gratidão.
“Eu me sinto muito honrada em poder propagar a minha história e, assim, inspirar mulheres como eu a serem mais. A serem melhor. Hoje eu enxergo que é importante esse papel: fazer a diferença na vida dessas mulheres”, diz a expert.
Vivi Siqueira é a única mulher negra no time de embaixadores do Grupo L’Oréal Professionnel no país. Sua personalidade é marcante nos diversos eventos em que se apresenta. Muitas pessoas, inclusive, veem a profissional como referência, não apenas no ramo da beleza, como também no empreendedorismo.
Vivi conta que em um evento foi abordada por uma admiradora do seu trabalho. Após a apresentação, Vivi conversou com a pessoa e ela se declarou fã da empresária. “Você me inspira muito, porque quando eu vi uma mulher preta no palco, eu entendi que eu podia também”, disse a jovem.
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Empoderamento: ferramenta de combate ao racismo
“Eu fui criada num núcleo de muito amor e de muita aceitação. Por isso na minha casa a gente nunca teve muito esse contato com o racismo”. Quando criança, Vivi nunca se abalou com qualquer ofensa que viesse a ser de cunho racista. Diz que ela e a irmã sempre tiveram a autoestima trabalhada pela mãe.
Ainda sobre a infância, ela relembra o modo como enxergava o racismo. “Eu tinha uma melhor amiga, na minha rua, que o pai dela não gostava de preto. Então, ela não podia frequentar a minha casa e nem eu a casa dela. E eu me recordo, nas memórias de infância, que eu ficava com dó da minha amiga porque ela não podia estar na minha casa”, conta. “A minha casa era maravilhosa. Tinha festa, todo mundo estava sempre junto (…) Um núcleo de muito amor”, completa.
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Já na vida adulta e com a carreira encaminhada, passou a frequentar conferências e eventos elitizados. Com a predominância de pessoas brancas e figuras masculinas, Vivi Siqueira pôde sentir os reflexos da discriminação contra mulheres e pretas.
Em um evento, onde era a única mulher preta em posição de destaque, Vivi conta que foi abordada por um homem branco, também beauty artist, com a seguinte frase: “Caramba! Uma amiga preta!”
A embaixadora diz que existem muitos passos para que a igualdade na indústria da beleza seja alcançada. Enfatiza que “essas empresas têm o poder do capital, têm a oportunidade de colocar quem quiserem lá dentro”.
A respeito dos programas de diversidade, ela diz: “É preciso ser um programa de verdade, não apenas uma campanha para deixar algo bonito”.
Vivi afirma que o caminho para chegar aonde se almeja não é fácil ou rápido, ainda mais para as pessoas que vêm de uma realidade que não deve ser romantizada. E principalmente para os jovens que têm um objetivo, ela destaca que além da busca pelo conhecimento, é essencial “aprender a sonhar, planejar e a entender com clareza aonde ela quer chegar e qual caminho precisa percorrer”.
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