Viradouro é campeã do carnaval do Rio com enredo em homenagem as mulheres negras, mas com muitos destaques e musas brancas

Raissa-Machado-Viradouro.jpg

Guardiãs do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeiras da Unidos do Viradouro — Foto: Marcelo Brandt/G1

Com o enredo “Viradouro de alma lavada” que falou sobre o grupo das Ganhadeiras de Itaupã, quinta geração de mulheres que lavavam roupa na Lagoa do Abaeté e faziam outros serviços em Salvador para comprar alforria,a Unidos do Viradouro venceu o carnaval do Rio de Janeiro.

Essas mulheres negras foram exaltadas no desfile como as “primeiras feministas do Brasil”, pela força que tiveram para ir atrás da liberdade e pela importância para a cultura da Bahia.

Mesmo com um enredo que homenageava a força da mulher negra, boa parte das musas da agremiação são mulheres brancas.

Raissa Machado, rainha de bateria – Foto: Reuters/Ricardo Moraes e Pilar Olivares

A rainha de bateria, Raissa Machado, é uma mulher branca, vestiu uma fantasia em homenagem à rainha dos Malês, Luiza Mahin, uma das lideranças da revolta pela libertação dos escravizados em Salvador. Ao comemorar o título a rainha de bateria sequer citou as mulheres negras: “Dedico essa vitória a todas as mulheres. Quero que elas saibam que podem ser o que quiserem”, disse Raissa.

A dançarina Lore Improta, um dos destaques da vermelhor e branco também não citou as mulheres negras ao vencer o título. A loira pareceu estar mais preocupada com o corpo do que com a mensagem que a Viradouro levou para a Sapucaí: “Sábado a gente vai estar aí de novo. Vou parar de comer batata frita que comi ontem, os chocolates que comi ontem”, disse a baiana. Lorena investiu alto e usou uma fantasia avaliada em R$ 40 mil, segundo o jornal O Globo. A loira representava a Rainha do Carnaval de Itapuã.

Lorena Improta representava a rainha do carnaval de Itapuã

O samba da escola de Niterói tinha influência de afoxé, ritmo baiano, nos batuques e na melodia. Na comissão de frente, a atleta da seleção brasileira de nado sincronizado Anna Giulia, vestida de sereia dourada e simbolizando a Orixá Oxum, dava mergulhos de até um minuto em um aquário com 7 mil litros de água mineral, representando a Lagoa do Abaeté.

As Ganhadeiras de Itapuã eram mulheres escravizadas que, nos séculos XVIII e XIX, realizavam atividades remuneradas e, lavando roupa à beira da Lagoa do Abaeté ou vendendo quitutes, juntavam dinheiro para alforriar seus companheiros e outras mulheres.

A agremiação de Niterói leva o título após 23 anos de jejum.

Deixe uma resposta

scroll to top