O Governo do Rio de Janeiro se nega a reconhecer o fracasso em operações que terminam com morte de inocentes. Nos últimos cinco dias o estado registrou a morte de seis jovens vítimas do que a polícia chama de ‘balas perdidas’, mas que tiveram destino certo. Em quatro casos a Polícia Militar estava envolvida nos tiroteios, seja durante operações ou em patrulhamentos.
Desde sexta-feira (9), foram mortos Gabriel Pereira Alves, Lucas Monteiro dos Santos Costa, Tiago Freitas, Dyogo Costa Xavier de Brito, Henrico de Jesus e Margareth Teixeira. Segundo a polícia, pelo menos três deles, são suspeitos, o que também não justificaria a execução, mas as famílias negam.
Dyogo Costa Xavier de Brito, de apenas 16 anos, foi morto durante uma operação da Polícia Militar que acabou em confronto entre a militares e traficantes, anteontem, na comunidade da Grota, em Niterói. Gabriel Pereira Alves, de 18 anos, foi atingido no peito por uma bala às 7h de sexta-feira, enquanto aguardava em um ponto de ônibus na Tijuca, Zona Norte do Rio. Já na noite de sexta, em uma festa no Encantado, na mesma região da cidade, o soldado e paraquedista do exército Lucas Monteiro dos Santos Costa, de 21, foi morto enquanto bandidos invadiram o local atirando. Um amigo de Lucas, Tiago Freitas, 21, foi baleado na cabeça. Na segunda-feira, Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, de 19 anos, também foi atingido na cabeça durante um tiroteio na Comunidade Terra Nova. Ele ia recolher uma moto deixada para conserto numa oficina. Margareth Teixeira, de 17 anos, foi morta com seu filho, um bebê de 9 meses, em seu colo, durante uma operação da PM, na noite de terça-feira (13), na comunidade do Quarenta e Oito, em Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
De acordo com o Observatório de Segurança RJ, o número de confrontos no Estado cresceu cerca de 25% em 2019 se comparado aos oito primeiros meses do ano passado, matando 151 pessoas.
O Rio de Janeiro registrou 1.452 confrontos entre policiais e suspeitos entre janeiro e agosto deste ano, segundo a plataforma digital Fogo Cruzado. Este número representa seis trocas de tiros envolvendo agentes do Estado por dia.
No 1° semestre deste ano foram mais de 4 mil tiroteios identificados pelo Portal Fogo Cruzado, o que significa, 23 tiroteios por dia. As pessoas ficam no meio dessa política desastrosa de segurança pública Melina Risso, Diretora do Instituto Igarapé
Mesmo com a morte de 6 jovens inocentes, o secretário de governo do estado, Cleiton Rodrigues, defendeu a política de segurança do estado:
“O governador (Wilson Witzel) e o governo do estado lamentam profundamente todas essas mortes. Essas e todas as outras que possam acontecer. Nós estamos todos os dias trabalhando para que elas não aconteçam”, disse o secretário.
Rodrigues ousa dizer que não há o enfrentamento da forma como está sendo colocado:“Estamos combatendo narcoterroristas e máfias. Pessoas que não têm o menor escrúpulo e usam a sociedade como escudo humano. A polícia tem feito seu papel. A segurança pública não está apenas calçada no enfrentamento a esses covardes narcoterroristas. Na Polícia Civil por exemplo, temos uma forte investigação na lavagem de dinheiro. Já temos mais de R$ 50 milhões sequestrados de possíveis lavadores de dinheiro”, disse o secretário, acrescentando que não há intenção nenhuma em matar inocentes e que após as investigações os verdadeiros culpados vão ser punidos.
A Diretora de Programas do Instituto Igarapé, Melina Risso, classifica como ‘desastrosa a politica de segurança do governo de Wilson Witzel: “O que acontece é uma tragédia, mas não é uma fatalidade, é uma crônica de uma morte anunciada. Acompanhamos histórias como estas (assassinato dos jovens) no Rio que são frutos da opção do confronto como forma de segurança pública. Observamos a quantidade de tiroteios que acontecem na cidade, sejam em operações policiais ou por enfrentamento de grupos armados. No primeiro semestre deste ano foram mais de 4 mil tiroteios identificados pelo Portal Fogo Cruzado, o que significa, 23 tiroteios por dia. As pessoas ficam no meio do fogo cruzado, no meio dessa política desastrosa de segurança pública”.
OAB considera que estas mortes são inadmissíveis
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro afirmou nesta quarta-feira (14) que tem profunda preocupação com a política de segurança pública do estado. De acordo com o órgão, a morte recente de seis jovens é algo “inadmissível e não podem ser tratadas como efeito colateral aceitável”.
O órgão classificou a política adotada como “sem inteligência e respeito a direitos e garantias da população.” O posicionamento segue e diz que “nenhum indicador de violência ou “propósito pacificador” justifica incursões policiais que desprezem a vida humana, com corte de raça e classe tão eloquente”.
A OAB disse ainda que estuda medidas contra esse “estado de coisas” e que irá prestar apoio jurídico às famílias dos jovens assassinados.
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