Um vereador de Caxias do Sul (RS) usou a tribuna da Câmara da cidade para criticar a operação que resgatou 207 trabalhadores de situação análoga à escravidão em vinícolas na cidade vizinha, Bento Gonçalves (RS).
Sandro Fantinel (Patriota) aconselhou produtores da região a não contratar trabalhadores vindos da Bahia e, em vez disso, buscar mão de obra de argentinos. “São limpos”, justificou o parlamentar, em sessão desta terça-feira (27).
“Todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”, afirmou.
O resgate dos trabalhadores que eram mantidos em alojamento apertado e sem higiene, tratados sob ameaças e até agredidos com choques e spray de pimenta, está causando enorme repercussão desde a semana passada, pois eles eram explorados em grandes vinícolas da região.
Para o vereador, porém, a denúncia é “exagerada e midiática” e teria sido feita com motivos políticos, como forma de atingir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem o parlamentar é fã. “Como é de costume, o empresário é tratado como vilão”, reclamou Fantinel.
“Agora o patrão vai ter que pagar empregada para fazer limpeza todos os dias para os bonitos? Temos que botar em hotel 5 estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho?”, questionou ele, antes de partir para as críticas aos baianos – que foram maioria entre os resgatados.
As declarações provocaram revolta e críticas por parte de outros parlamentares. O deputado estadual, Leonel Radde (PT) registrou um boletim de ocorrência contra o vereador bolsonarista. Já o vereador Lucas Caregnato (PT) pediu ao vereador do Patriota a retirada das expressões dos anais da Câmara.
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“A gente acabou de se deparar com uma situação de xenofobia e preconceito ao povo baiano nas palavras do vereador Fantinel, então solicito que o vereador suprima sua fala, não desresponsabilizando ele do ato que acabou de acontecer nesse parlamento”, afirmou Caregnato, que teve seu pedido acatado por Fantinel.
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