“A velha impressão que o Nordeste é a região mais atrasada”, diz historiador sobre estereótipos na teledramaturgia

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A nova novela da TV Globo, “No Rancho Fundo”, que vai ao ar às 18 horas, está dando o que falar nas redes sociais. As primeiras imagens em que uma parte do elenco aparece gerou criticas, para alguns internautas, a nova produção mostra o Nordeste de forma estereotipada. O Notícia Preta conversou com o historiador Matheus Costa sobre como a mídia reforça esses estereótipos.

“O impacto que essas novelas podem causar é totalmente negativo, em partes, muito negativo, porque reforça estereótipos, preconceitos, a visão de mundo, recortes sociais, que durante muito tempo fez com que a gente tivesse aquela velha impressão de que o Nordeste é a região do país mais atrasada, sem muito estudo, com pouca educação, e que é alheio, não tão desenvolvido economicamente, por sua vez”, afirma ele.

A história mostra uma família pobre que enriquece ao descobrir uma jazida de turmalina em seus terrenos Foto: Reprodução Foto: Divulgação/Globo

Na imagem, aparecem os veteranos Alexandre Nero, Andréa Beltrão e Mariana Lima, e Larissa Bocchino, que será a protagonista, o ator Igor Jansen, egresso das novelas infantis do SBT. Todos caracterizados como seus personagens na história. Para o historiador, são vários fragmentos.

Ele cita alguns exemplos de personagens que carregam a mesma narrativa Presente nas tramas sobre o Nordeste.

O intuito da novela não é mostrar essa discrepância social, histórica, educacional entre essas regiões, mas mostrar de forma caricata a figura do nordestino e reforçar como aquele bobão, cômico, sem muito estudo, semianalfabeto, engraçado, na grande maioria das vezes. Isso quando não é um nordestino preto, pobre e gay. Aí são vários recortes e realidades sociais diferentes”, analisa Matheus.

Estereótipos presente em outras obras

O historiador relembra que durante muitos anos na dramaturgia brasileira, principalmente nas novelas globais, o estereótipo do nordestino sempre foi voltado para o caricato e “No Rancho Fundo” é mais um desses exemplos.

“A novela da Maria da Paz, A Dona do Pedaço, a Flor do Caribe, que tinha o personagem do Candinho, quem não lembra do Candinho, que andava com aquela cabra para cima e para baixo, que foi interpretado pelo José Loreto, é um dos personagens nordestinos mais conhecidos dentro da história da ficção. A gente pode assemelhar o famoso Tonho da Lua o resultado de Mulheres de Areia, o Rivonaldo, José Cordeiro de Jesus“.

Matheus Costa também pontua sobre as produções do cinema que seguem o mesmo viés das telenovelas e reafirmam o nordestino como um individuo sem letramento.

“Cheia de Charme, uma novela da Rede Globo que fez muito sucesso. Quem não lembra da Cheyenne e das Empreguetes, principalmente da Cheyenne com aquele sotaque nordestino característico bem caricato, mesmo interpretado pela Cláudia Abreu. O Chicó, do Auto da Compadecida, é um dos maiores sucessos do cinema nacional, inspirado em uma das obras mais famosos do saudoso Ariano Suassuna”, finaliza.

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