Políticas públicas e autodeclaração racial são apontadas como fatores prováveis para aumento dessas lideranças. Mesmo com o aumento, ainda existe sub-representação e desigualdade no meio acadêmico.
Segundo análise realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), a proporção de pesquisadores pretos e pardos na liderança de grupos de pesquisa no Brasil triplicou, de 8,1% para 22,6%, no período compreendido entre os anos de 2000 e 2023.
Esse quantitativo é equivalente a quase 15 mil dos 66 mil líderes cadastrados. A análise foi feita com base no censo mais recente do Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq. A pesquisa mostra ainda que a presença de pessoas negras nos grupos de pesquisa aumentou como um todo. Nos anos 2000 era de 48,6% e, em 2023, esse número subiu para 89,6%. Para homens negros líderes, os percentuais aumentaram de 4,8% para 12,2%. Para as mulheres, subiu de 3,2% para 10,4%.

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A presença feminina é vista mais fortemente em áreas como enfermagem, sendo 19,8%. Farmácia, com 12,3% e saúde coletiva com 18,4%. Na medicina, a presença masculina subiu de 2,4% para 7%, no mesmo período. E para as mulheres negras de 1,4% para 9,2%. Homens negros também aumentaram em profissões como ciência da computação e engenharia nuclear, de 4,9% para 17,3% e de 4,8% para 15,4%, respectivamente. Nenhuma mulher negra lidera grupos de engenharia aeroespacial ou naval.
A pesquisa não investiga as causas diretas que proporcionou esse aumento de líderes negros na ciência, mas políticas públicas são apontadas como fatores prováveis. O programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), criado em 2007, para expandir vagas nas universidades federais, contratou cerca de 20 mil docentes ao longo dos anos, o que teria ampliado as oportunidades em regiões com maior número de população negra.
Como é o caso do Nordeste, que teve um aumento de 15,5% de liderança negra. De 22,3% para 37,7%. No Centro-Oeste, de 10,2% para 24,2% e no Norte, de 33% para 44,4%.
Sub-representação e desigualdade no meio acadêmico.
Mesmo com os aumentos significativos, o número de líderes negros na ciência ainda é desproporcional ao número de pessoas negras no país. Em regiões com maioria negra, essa sub-representação e desigualdade é vista de forma ainda mais evidente, no Norte a presença de líderes é de 44,4% em comparação a de 76% da população que é negra.
No Nordeste, é 37,7% comparado a 72,6%. No Centro-Oeste é 24,2% para 61,6%. No Sudeste e Sul, os percentuais são ainda menores: 15,1% e 7,8%. Segundo dados do Parent in Science, realizado em julho de 2023, apenas 0,8% dos bolsistas e produtividade do CNPq são mulheres pretas e somente 4,8% são pardas.